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Este espaço visa compartilhar experiências profissionais de Serviço Social na área de saúde.

Considerando-se a grande diversidade e dinamicidade das expressões da questão social, a troca de vivências profissionais tem relevante papel no intuito de qualificação da assistência prestada e na construção do projeto ético-político sintonizado com os anseios de igualdade e de justiça social.

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Um grande abraço.

Tereza Cristina





terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Sonhos: acredite neles!





"É preciso sonhar, mas com a condição de crer em nosso sonho, de observar com atenção a vida real, de confrontar a observação com nosso sonho e de realizar escrupolosamente nossas fantasias; sonhos, acredite neles"
Vladimir Ilitch Ulianov Lênin

Boas Festas e um ano de 2011 com sonhos sempre renovados!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Serviço Social e atenção integral à saúde da mulher. Considerações sobre a ação profissional no Serviço de Ginecologia do HFB.

Autoras: Tereza Cristina Ferreira da Silva – assistente social – CRESS 7a região - tereza-silva@hotmail.com
Tatiane Cristina da Paixão Reis – acadêmica de Serviço Social da UFRJ – 8O período - tatianecpreis@hotmail.com

1 – Introdução
O presente texto consiste numa aproximação inicial do Serviço Social do Serviço de Ginecologia do Hospital Federal de Bonsucesso – HFB com a área da Saúde da Mulher, tendo em vista a recente inserção no referido setor. Visa apresentar e pontuar os referenciais da ação profissional, tendo como parâmetro os princípios jurídicos e normativos da atual Política de Saúde; da Política nacional de atenção integral à Saúde da Mulher e do Projeto ético-político do Serviço Social, bem como sistematizar a ação desenvolvida no atual momento no setor.
A atual inserção profissional iniciou-se em maio de 2010, e encontra-se em fase de elaboração da proposta de atuação, a partir da identificação das necessidades do setor; interpretação das demandas explícitas pelos usuários; entrosamento com a equipe multiprofissional; definição de ações estratégicas; além de atendimento às demandas espontâneas e participação nas ações já instituídas pelo Programa de Planejamento Familiar.
2 – A construção da atenção integral à saúde de mulher enquanto um direito
Na breve aproximação com a literatura referente à trajetória da Política de atenção à saúde da mulher, observa-se que o Movimento Feminista trouxe contribuições relevantes para o reconhecimento e configuração da condição de cidadã das mulheres, além de colaborar, decisivamente, na construção do conceito de direito sexual e reprodutivo.
Favorece assim, a concepção da sexualidade e da reprodução enquanto dimensões da cidadania e, consequentemente, da vida democrática, bem como a inserção na agenda política nacional de temáticas até então consideradas restritas ao espaço de relações privadas.
Constata-se que, nas primeiras décadas do século XX, começa a ser gestada a política pública de saúde voltada para as mulheres, a partir de uma concepção restrita à sua especificidade biológica, refletindo a cultura sobre os papéis que a sociedade, historicamente, atribuiu à mulher: mãe e reprodutora.
Em 1984, o Ministério da Saúde implantou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher – PAISM, marcando a ruptura conceitual com o paradigma materno-infantil, incorporando os ideários feministas para atenção à saúde integral e responsabilizando o Estado brasileiro com os aspectos da saúde reprodutiva. Retrata os princípios norteadores da Reforma Sanitária, tais como: descentralização, hierarquização e regionalização dos serviços; integralidade e equidade na atenção e participação social. Prevê ações educativas, preventivas, de diagnóstico, tratamento e recuperação, envolvendo a assistência em: clínica ginecológica; Pré-natal; parto; puerpério; climatério; Planejamento Familiar; DST’s; câncer de colo de útero e de mama;... Propõe ainda formas simétricas de relacionamento entre os profissionais de saúde e usuárias, apontando para a apropriação, autonomia e maior controle das mesmas sobre a própria saúde, o corpo e a vida.
Em 2004, é lançado a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher - Princípios e Diretrizes, construída a partir da proposição do SUS, respeitando as características da nova política de saúde.
Em 2005, foi lançada a Política Nacional de Direitos Sexuais e de Direitos Reprodutivos, resultando de uma articulação que envolveu os Ministérios da Saúde, da Educação, da Justiça e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, assim como as Secretarias Especiais de Políticas para as Mulheres, Políticas de Proteção e Promoção da Igualdade Racial e Secretaria Nacional de Direitos Humanos.
Apesar dos avanços da Política de saúde da mulher no Brasil, verifica-se que a grande maioria das ações e estratégias propostas estão relacionadas à saúde sexual e reprodutiva, com ações voltadas para a gravidez e para prevenção das DST/HIV, não considerando as questões de gênero em sentido amplo, o que implicaria tomar como referência o modo como homens e mulheres se relacionam no seu cotidiano, enquanto resultado da determinação social do processo saúde/doença.
Cabe aos profissionais de saúde buscar a articulação com os vários segmentos progressistas organizados na sociedade (universidades, movimentos sociais, profissionais da educação...), no sentido da garantia de implementação dos avanços já conquistados e da ampliação da atual política em vigor.
3 – Referenciais de atuação do Serviço Social junto à Saúde de Mulher
As mudanças jurídicas implementadas na Política de Saúde enfatizam a saúde para além do aspecto biológico, englobando a compreensão sobre os demais fatores envolvidos no processo saúde-doença. As práticas profissionais embasadas na reflexão sobre as condições de vida e trabalho assumem um caráter relevante no atual modelo.
A aplicação do conceito ampliado de saúde, conforme o modelo adotado pelo SUS incide na ampliação do espaço sócio-ocupacional dos assistentes sociais, atribuindo relevância ao seu papel profissional, na medida em que a assistência integral envolve a compreensão sobre a determinação social do processo saúde-doença.
Entretanto, a efetivação de tal papel realiza-se de forma conflituosa no processo de trabalho em saúde. No cotidiano do espaço profissional, verifica-se que não houve a quebra do paradigma tradicional clínico, seja devido a limitação de uma consciência sanitária e da concepção ampliada de saúde no interior da equipe multidisciplinar; seja devido aos fatores da própria organização da política assistencial, os quais contrariam os princípios do SUS e o modelo assistencial dele decorrente.
A limitação da consciência sanitária reflete uma assistência centrada nas especialidades médicas, na qual os demais profissionais são tidos como subordinados às mesmas.
Sendo a integralidade um princípio básico da atual Política nacional de atenção à Saúde da Mulher, reconhece-se tal campo como um espaço de atuação relevante para os assistentes sociais, visto que favorece a elaboração de estratégias para além do seu aspecto clínico, no sentido de desvelar e interpretar os diversos fatores envolvidos nas demandas apresentadas (questões de gênero; diversidade etária; racial; étnica; sexual...).
Considerando-se que a interdisciplinaridade representa um importante componente da assistência integral à saúde, cabe concretizá-la nas rotinas institucionais, no sentido de estabelecer espaços de interação entre a equipe, favorecendo a reflexão e discussão sobre a subjetividade e diversidade envolvida no atendimento às demandas.de saúde das mulheres.
Outrossim, cabe enfatizar a relevância da abordagem e intervenção social sobre as demandas envolvendo à violência contra as mulheres, considerando-a enquanto importante questão de saúde pública.
A ação do Serviço Social possibilita o estabelecimento de um espaço reflexivo e de informação, favorecendo o exercício do direito à saúde sexual e reprodutiva com autonomia, com base nos princípios da política de saúde em vigor.
Tais referenciais expostos, buscam o direcionamento da ação0 profissional pelo arcabouço teórico-metodológico e ético-político do Serviço Social, sobretudo na área da saúde, favorecendo a superação da subalternidade às diretrizes institucionais à qual a profissão foi historicamente submetida, e reafirmando o compromisso com a justiça social e com a democratização do acesso dos usuários aos seus direitos.
4 – O Serviço Social no Serviço de Ginecologia do HFB
4.1 – Estrutura de funcionamento do Serviço de Ginecologia:
O Serviço de Ginecologia do HFB envolve a assistência na Enfermaria de Ginecologia; Ambulatório de Ginecologia e no Programa de Planejamento Familiar. A equipe é composta pelo Serviço Social (uma assistente social e uma acadêmica); Psicologia (uma psicóloga acumulando a função de chefia do setor de Psicologia e uma acadêmica); Enfermagem (equipe dividida em seis plantões: três diurnos (SDA; SDB e SDC) e três noturnos (SNA; SNB e SNC); Medicina (vinte médicos, sendo onze residentes); Secretaria (duas funcionárias administrativas e um estagiário). A nutrição realiza apenas visita diária aos leitos, e não é exclusiva do Serviço de Ginecologia.
Com exceção da Enfermagem, a equipe que atende na enfermaria é a mesma do ambulatório de Ginecologia, que oferece as seguintes especialidades médicas: Ginecologia geral; patologia cervical; Colposcopia; esteroscopia; mastologia; infanto-puberal; uroginecologia; esterelidade.
4.1.1 – Vias de acesso e demandas nosológicas atendidas:
A maioria dos usuários atendidos no Ambulatório e na Enfermaria, tem como acesso o SISREG – Sistema de Regulação, a partir das solicitações referenciadas pelas unidades básicas dos diversos municípios. Poucos usuários são oriundos do setor de Emergência. Conforme o perfil assistencial da unidade, que tem como marca as ações de maior complexidade, as principais situações atendidas envolvem o tratamento cirúrgico ou de Câncer (mama, útero ou ovário).
4.1.2 – Espaços de decisão e interação entre a equipe:
Diferentemente de outros serviços que contam com um colegiado enquanto fórum de deliberação, o Serviço de Ginecologia não mantém regularidade de espaços coletivos de decisão. A equipe médica reúne-se mensalmente para estudo de casos, mas não há o entrosamento entre os demais segmentos da equipe multiprofissional, limitando-se a apreensão de outros aspectos envolvidos na assistência à Saúde da Mulher.
4.2 – Caracterização da atuação do Serviço Social:
O Serviço Social encontra-se inserido no setor desde 1994. Entretanto, a atual profissional iniciou sua atuação em maio do ano corrente, em virtude do afastamento da profissional anterior que exerceu suas atividades no setor no últimos 16 anos. Trata-se, portanto, de uma aproximação inicial, voltando-se para a identificação das necessidades do setor; o entrosamento com a equipe multiprofissional e definição de ações estratégicas e de planejamento.
A assistente social e a acadêmica atuam em regime de plantão, em três dias da semana (segunda; quarta e quinta-feira), realizando, além das ações estratégicas e de aproximação inicial, atendimento às demandas espontâneas e participação nas ações do Planejamento Familiar, envolvendo abordagem individual e reunião educativa mensal. Organiza-se para implementar um espaço de abordagem grupal semanal, de modo a propiciar a orientação sobre direitos sociais e reflexão sobre os aspectos envolvidos no processo de adoecimento, hospitalização e da condição feminina..
O Serviço Social atua ainda em outras atividades de caráter estratégico, tendo em vista o momento inicial de inserção, como já sinalizado, a fim de consubstanciar o Plano de atuação profissional a ser elaborado para 2011, visando contemplar os objetivos de aprimoramento das ações assistenciais desenvolvidas no setor, com base nos princípios de integralidade e interdisciplinaridade, preconizadas nos dispositivos legais.
4.2.1 – Perspectiva de atuação:
A atuação profissional tem como base uma perspectiva histórica sobre a condição feminina, evidenciando os novos papéis que a mesma assume na sociedade, bem como a consideração sobre a diversidade presente em sua subjetividade (racial; etária; religiosa; de orientação sexual...), as quais repercutem com especificidades sobre o corpo adoecido.
4.2.2 – Ações preliminares:
Tendo em vista o necessário desenvolvimento de iniciativas voltadas para a correta inserção no setor, foram estabelecidas iniciativas de aproximação inicial, visando: reconhecimento da estrutura de funcionamento do setor; da expectativa dos membros da equipe de profissionais; das demandas dos usuários e da experiência acumulada pela assistente social anterior nos últimos 16 anos. Assim, são realizadas as seguintes iniciativas:
· reunião entre os representantes dos principais segmentos profissionais atuando no setor: médico (Chefe do Serviço); psicóloga; enfermeira (Chefe da Enfermagem);
· entrevista com a Chefe da Enfermagem, no intuito de identificar a estrutura de funcionamento da Enfermaria de Ginecologia;
· reunião com o Chefe do Serviço de Urologia, no intuito de discutir a situação atual de realização dos procedimentos de vasectomia;
· reorganização técnico-administrativa do setor;
· redefinição dos instrumentos de registros (ficha social e demais formulários); e
· redefinição de rotinas e protocolos de atuação.
· Providências de melhor aparelhamento do setor.
4.2.3 – Frentes de atuação:
· Enfermaria de Ginecologia:
Foi definida a seguinte rotina de atuação:
o Levantamento diário nos prontuários, identificando as situações a serem priorizadas;
o Ronda semanal pelos leitos, com o seguinte intuito: apresentar e disponibilizar o Serviço Social, explicitando o caráter da atuação na unidade; identificar preliminarmente as situações sociais com implicação no processo de adoecimento e hospitalização; fornecer orientações previdenciárias e sobre os demais direitos sociais.
o Fornecimento do perfil social preliminar à equipe multiprofissional , apontando as situações a serem acompanhadas pelo Serviço Social, a partir da colocação da folha social no prontuário dos usuários admitidos no setor;
o Abertura de ficha de acompanhamento social, no caso de se identificar situação social a ser acompanhada pelo Serviço Social, com as possíveis providências: convocação do familiar a fim de complementar o estudo social; interlocução com a equipe multiprofissional; busca de recursos institucionais; emissão de relatórios e/ou notificação; encaminhamentos para os recursos institucionais; orientação e reflexão junto ao usuários e respectivos colaterais...
o Acompanhamento pós-alta das situações julgadas necessárias.
· Ambulatório de Ginecologia:
No momento, estão sendo atendidas as demandas espontâneas e elaborado material gráfico (folder) e visual (PPT) a ser utilizado na sensibilização e entrosamento com a equipe multiprofissional, visando a insersão articulada e a construção da relação interdisciplinar. Também está sendo elaborada a proposta de abordagem grupal, a fim de atingir um contingente maior de usuários.
· Planejamento Familiar:
O Programa do Planejamento familiar surgiu no HFB em 1996, no intuito de atender a demanda interna das usuárias, cujas patologias a colocam em condição de risco, sobretudo no caso de gravidez. Assim, passa a absorver uma demanda típica da assistência prestada nas unidades básicas de saúde.
As usuárias são encaminhadas pelos diversos serviços da unidade para agendamento na reunião educativa, a qual ocorre na primeira quarta-feira do mês, sendo coordenado pela equipe multidisciplinar, composta pela Enfermagem; Psicologia e Serviço Social. Os interessados em adotar os métodos irreversíveis (laqueadura de trompas ou vasectomia) são submetidos a abordagem individual, a fim de buscar a adequação aos critérios previstos na legislação específica.
No caso de vasectomia, é agendada posteriormente à reunião educativa uma entrevista multidisciplinar com o casal, com os seguintes objetivos:
  • Qualificar as ações envolvendo a Saúde da Mulher e a Saúde reprodutiva para além do caráter clínico, garantindo um espaço crítico e de informação, favorecendo o exercício do direito com autonomia;
  • Buscar a adequação à lei referente ao Planejamento Familiar;
  • Identificar situações de risco social que limitem o papel de proteção social da família, as quais possam estar associadas à necessidade de interrupção do ciclo reprodutivo; e
  • Emitir parecer para o Serviço de Urologia, amparando a realização do procedimento cirúrgico com os aspectos previsto em lei.
Além disso, vem desenvolvendo as seguintes ações: reuniões com a equipe multidisciplinar do Programa de Planejamento Familiar no intuito de aprimorar as ações já desenvolvidas; elaboração de materiais educativos, tais como PPT e cartilha; articulação com outros serviços que estabelecem parcerias com o Programa de Planejamento Familiar (Urologia e Obstetrícia); e levantamento de serviços de Planejamento Familiar nos vários municípios.
A reunião educativa representa importante momento do Programa de Planejamento Familiar, conforme as orientações previstas na norma jurídica, já que contribuem para propiciar a liberdade na escolha sobre o método ou procedimento adequado, a partir do acesso às informações, meios, métodos e técnicas disponíveis para a regulação da fecundidade.
Outrossim, concebe-se a perspectiva sobre a saúde sexual e reprodutiva para além do caráter clínico, garantindo um espaço reflexivo e de informação, favorecendo o exercício do direito com autonomia, com base na concepção de assistência integral à saúde.
Com referência nas elaborações sobre a metodologia de Educação e Saúde, busca-se a maior dinamização do espaço; estímulo a participação; resgate do conhecimento dos usuários e de estabelecimento de uma relação de troca de saberes entre profissionais e usuários.
Tal metodologia concebe a ação reflexiva enquanto estratégia privilegiada na socialização das informações e na superação da cotidianidade e desvendamento da realidade tanto nos aspectos macroestruturais como nas construções estabelecidas nas diversas instâncias nas quais se desenvolvem as relações sociais (relações familiares; de gênero; étnicas; intergeracionais; raciais...).
5 - Considerações finais:
Os avanços jurídicos ordenados na conjuntura da década de 80 configuram parâmetros fundamentais para atuação profissional comprometida com o pensamento crítico e progressista. Assim, os princípios norteadores da atual Política de Saúde, em particular da Política de Atenção Integral à Saúde da Mulher, devem ser reafirmados e embasar as proposições profissionais articuladas com o referencial ético e político hegemônico no Serviço Social.
Entretanto, a concretização de tais pressupostos não se restringe ao espaço específico de atuação do assistente social, já que este se realiza enquanto um trabalho coletivo dentro da dinâmica institucional, considerando-se a sua correlação de forças e cultura institucional.
Cabe aos assistentes sociais, ao elaborarem suas propostas de atuação, buscar as articulações necessárias no contexto institucional no sentido de se estabelecer rotinas e instituir parâmetros de intervenção que reconheça a diversidade feminina (cultural; racial; geracional; sexual; religiosa; étnica...) com a garantia de direitos iguais.
A elaboração de respostas profissionais requer dos assistentes sociais a correta interpretação sobre a determinação social do processo saúde-doença, considerando-se a necessária compreensão de que o seu trabalho não se desenvolve independentemente das circunstâncias do contexto conjuntural e institucional que o determinam.
Outrossim, acredita-se que o encontro entre profissionais e usuários, no cotidiano dos serviços de saúde podem reforçar ou desconstruir concepções distorcidas sobre o “feminino”, no sentido da sua transformação ou manutenção.
Detectar e interpretar os determinantes sociais do processo saúde-doença, exige do Assistente Social a competência teórica, política, ética e técnico-operativa, de forma a superar a ação profissional subordinada e acrítica diante da predominância do modelo assistencial clínico.
6 – Referências bibliográficas:
Brasil. Ministério da Saúde. Política nacional de atenção integral à saúde da mulher: plano de
ação 2004-2007/Ministérioda Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de
Ações Programáticas Estratégicas–Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
_______. Ministério da Saúde. Lei Orgânica da Saúde: Lei 8080, de 19 de setembro de 1990.
BRAVO, M. I. S. Saúde & MATOS, Maurílio Castro de. Reforma Sanitária e o Projeto Ético- Político do Serviço Social: elementos para o debate. In: Saúde e Serviço Social - BRAVO, Maria Inês Souza, VASCONCELOS, Ana Maria, GAMA, Andréa de Souza., MONNERAT, Gisele. Lavinas (Orgs) .São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: UERJ, 2004.
CFESS. Código de Ética Profissional do assistente social/1993. Brasília, 1993.
CFESS. Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social. Lei nº. 8662. Brasília, Junho de 1993.
MOTA, A. E.; BRAVO, M. I. S. et al. (orgs.). Serviço Social e Saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, OPAS, OMS, Ministério da Saúde, 2006.

Texto primoroso sobre a Saúde da Mulher!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A saúde da mulher no contexto da decadência do SUS e da degradação da qualidade social de vida da mulher trabalhadora

Intervenção de Gilson Dantas, médico e doutor em sociologia, proferida na atividade organizada pela Secretaria de Mulheres do SINTUSP no dia 28 de maio, em função do Dia Internacional de Ação Pela Saúde da Mulher. A atividade contou com mais de 100 pessoas e foi realizada como parte das atividades da Greve dos Trabalhadores da USP.

 

Meses atrás foi divulgada por uma pesquisadora e estudiosa da saúde pública da mulher brasileira, uma dissertação de mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina, um trabalho feito com mulheres portadoras de câncer de mama que é muito revelador e deve funcionar como um alerta para a mulher trabalhadora.

Esta profissional da saúde estudou durante cinco anos mil prontuários de mulheres que tiveram diagnóstico de câncer de mama em estágio mais ou menos inicial; acompanhou a evolução – com tratamento - de todos os casos durante cinco anos e ao final do estudo concluiu o seguinte: quase 100% das mulheres que sobreviviam ao câncer de mama tinham título universitário, portanto um grau de renda diferenciado, alto em relação à média da mulher brasileira; das mulheres que já tinham morrido em cinco anos, mais da metade pertenciam à categoria de mulheres negras, analfabetas e, portanto, de baixa renda. Estas mulheres apresentaram um risco 7,4 vezes maior de morrer, se comparadas com as mulheres de mais renda. Em outras palavras, o que ficou ali demonstrado foi que para mulheres jovens que são analfabetas e não-brancas, o diagnóstico de câncer de mama é uma condenação à morte.

Nós estamos falando do câncer de mama, aquele irá trazer 50 mil novos casos no Brasil em 2010 segundo o Instituto Nacional do Câncer, de uma doença que é extremamente agressiva em mulheres jovens (menos de 30 anos), mas com certeza poderíamos falar algo parecido em relação ao câncer de colo uterino – um câncer de prevenção baratíssima e segura – como também se poderia falar coisa parecida dos demais tipos de doenças malignas que mais matam mulheres: se não considerarmos o câncer de pele, em mulheres, os mais freqüentes serão mama, colo do útero, intestino, pulmão e estômago. Ao final da pesquisa, a sua autora, Ione Schneider, estava perplexa e disse que embora já se soubesse muito bem que as trabalhadoras mais pobres só sabiam do diagnóstico do câncer de mama tarde demais em relação às mais ricas mas o que ela não sabia e que a sua pesquisa mostrou claramente, é que a escolaridade, a condição social, tivesse influência tão determinante na sobrevida de mulheres já diagnosticadas com essa doença.
Primeira conclusão: o câncer de mama, antes de ser um problema médico, é muito mais um problema da renda e das condições de vida social da mulher; quem vai decidir, em última instância e em grande escala quem deve morrer ou quem não deve morrer do câncer de mama é a renda e a posição social. E neste item, portanto, a mulher trabalhadora, precarizada, mais explorada economicamente é quem será escolhida para morrer. Evidentemente se trata de um crime, mesmo que não seja tratado como um crime. E evidentemente a mulher explorada já sabia e já sabe disso antes de qualquer estatística: tem plena consciência prática de que para marcar uma simples mamografia, uma simples consulta ginecológica ou até um simples Papanicolau (exame de lâmina, básico para prevenção do câncer de colo de útero), ela sabe que vai percorrer o inferno para conseguir ser atendida e sabe-se-lá se vai conseguir ser atendida a tempo ou se será atendida com a atenção que merece.

A pesquisa mostrou que a mulher trabalhadora pobre/desempregada/precarizada, será aquela que vai ser escolhida para morrer e justamente porque além de não contar com os alimentos, o descanso e as condições de vida e trabalho para poder não gerar e nem alimentar a doença, ela tampouco vai encontrar a proteção e a cura quando for atingida pela doença. Um tumor de mama de até um centímetro, por exemplo, adequadamente tratado é perfeitamente curável, praticamente 100% curável enquanto um tumor de mais de um centímetro, de dois, de três, de cinco, dificilmente encontrará a cura. Coisa semelhante ocorre em outras doenças.

Ou seja, a mesma regra – o descaso do governo - vale para uma série de doenças que atingem especialmente ou exclusivamente o gênero feminino. Podemos citar várias delas, cada uma por si só merecedora de uma palestra: a dura travessia da menopausa e que inclui a osteoporose, o cisto de ovário, o câncer de colo uterino, o mioma, a endometriose, as doenças sexualmente transmissíveis da mulher, os problemas da tensão pré-menstrual, as dificuldades e doenças do exercício da sexualidade e do direito à reprodução (que inclui métodos de prevenção da gravidez, direito ao aborto e naturalmente o direito ao acompanhamento pré-natal, durante e depois da gravidez, inclusive direito à amamentação e à creche) e assim por diante.

Em nenhum destes casos pode-se falar que a mulher trabalhadora está sequer sofrivelmente bem atendida. Câncer de mama, câncer de colo uterino estão virando uma praga. Ao mesmo tempo, sem muita divulgação, quase 70 mil mulheres morrem por ano devido a complicações de um aborto feito em condições de risco. Só em 2006 o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 221 mil internações por complicações de abortos.

Morrem 70 mulheres para cada 100 mil partos, morrem do parto; a tal ponto que esse problema gerou uma CPI em 2000 que, como era de se esperar, não deu em nada.

E se falarmos de homens e mulheres, a previsão para 2010 é de meio milhão de casos novos de câncer, sendo os mais freqüentes, os de pele (não melanoma), próstata e mama.

A massa de mulheres – e neste caso também de homens – da classe trabalhadora é submetida a condições de trabalho e de vida que são uma verdadeira fábrica de doenças esta é a primeira questão que deve ser levada em conta quando se pensa na saúde da mulher; e a segunda questão é que o nosso sistema de proteção e atenção à saúde pública, o SUS, construído para ser universal, accessível e gratuito está se tornando o inferno de filas, o inferno de falta de equipamento e de concentração de miseráveis condições de atendimento.

Em Brasília uma mulher – naturalmente da classe trabalhadora, pobre – tem que esperar oito meses, ou um ano para poder fazer uma cirurgia de mioma; tem que esperar meses atrás de uma mamografia e no parto, quando chega o momento do parto, no Brasil, ela vem sendo vítima de uma verdadeira “epidemia” de cesárias, uma cirurgia na esmagadora maioria da vezes desnecessária e anti-natural na qual o Brasil é tristemente campeão senão um dos campeões mundiais, já denunciado pela Organização Mundial de Saúde, que recomenda que 15% é o máximo aceitável de número de nascimentos por cesárea enquanto no Brasil se pratica 80%. Oitenta por cento dos bebes que nascem, vêem ao mundo na base do bisturi, com todas as conseqüências negativas que isso traz para o bebê e para a mãe. O sistema sai ganhando com as cesáreas, o médico inescrupuloso sai ganhando com as cesáreas, a indústria capitalista sai ganhando com a indústria médica das cesáreas (pelas quais se paga mais do que o parto normal).
E aqui é inevitável que tenhamos que tratar do problema do complexo médico-industrial da saúde, assim como da indústria dos planos de saúde, da mercantilização dos serviços de saúde, dos planos de saúde e das OSS, Organizações Sociais, entidades criadas pelo governo para terceirizar e precarizar os serviços públicos de saúde e também é preciso que se tenha claro sobre como tudo isso terminou reduzindo o SUS – uma conquista das mobilizações da classe trabalhadora dos anos 80 – quase a um engodo, quase a pó.

A história é conhecida de vocês, especialmente das veteranas dos movimentos sociais: só depois de muita luta o governo chegou a criar um sistema como o do antigo INAMPS-INSS e, mesmo assim, na condição de um sistema público de atenção médica apenas aberto a quem tinha carteira de trabalho. Veio a ditadura (para esmagar os movimentos sociais), veio a derrubada da ditadura através dos novos movimentos sociais, de rua e vieram os grandes combates da classe trabalhadora que terminaram levando o governo a criar o SUS; primeiro inscrito na Constituição de 1988 e em seguida propagandeado pelos sucessivos governos como um brinde ou uma concessão quando na verdade era uma clara conquista da classe trabalhadora; sem mobilização e luta dos de baixo nenhum governo jamais quis criar um SUS da mesma forma que nenhuma patronal vai querer reduzir seus custos de produção para liberar a mulher que amamenta ou priorizar a saúde da mulher trabalhadora.

É uma grande bobagem confiar em qualquer patronal. E esse foi o problema já na própria criação do SUS: a CUT, os sindicatos que então eram combativos e que depois terminaram tristemente domesticados e estatizados pelo governo Lula, submissos ao governo Lula (que hoje não é diferente de nenhum governo dos banqueiros), não deram o passo seguinte após a criação do SUS. (Um sistema que, por sinal, já nasceu contaminado pela privatização quando com a Constituição de 1988 cria-se o sistema complementar, privado, que hoje vem a ser é dominante). Este passo seguinte que não foi dado, seria precisamente a luta pelo controle do SUS pelos trabalhadores e, ao lado disso, a criação da indústria de medicamentos pública, estatal (uma Remediobrás que barateasse preço de todo medicamento e incentivasse toda pesquisa médica a favor do povo) e a estatização da indústria de equipamentos médicos sob controle dos operários. Não se fez isso.

O movimento sindical e as mobilizações históricas da classe trabalhadora dos anos 70 e oitenta impuseram o SUS, permitiram a chamada “reforma sanitária”, mas ao não darem o passo seguinte de implantação de um verdadeiro SUS (e não isso que está aí, conformado com uma medicina de segunda, uma medicina precarizada, medicina “de pobre” como eles mesmos chamam), ao não irem adiante, a porta ficou aberta para os famigerados planos de saúde, para o mercenário complexo médico-industrial-hospitalar, para a elitização da medicina e a criminosa situação em que está jogada a saúde da mulher e a prevenção das doenças de homens e mulheres.
Ninguém vai para o plano de saúde privado porque quer. Nenhuma mulher escolhe esperar para poder fazer um exame que a salvaria de um câncer de mama ou de útero. Nenhuma mulher deixa de amamentar seu filho por livre escolha, porque quer. Da mesma forma que toda mulher trabalhadora lutaria e sempre lutará por lavanderias e restaurantes baratos – para ir se livrando da dupla jornada de trabalho – assim como lutará cada vez mais por creches de qualidade para todas as mães no local de trabalho. O problema é que ao não se implantar um sistema de atendimento à saúde que seja universal, público, gratuito e sob controle dos trabalhadores e acompanhado do confisco de toda grande indústria que lucra com a saúde, a mulher trabalhadora ficou na mão, ficou à mercê do que veio depois: os vários governos, seja do PSDB, seja do PT, foram precarizando o SUS, sucateando o SUS, desmontando o SUS (a verba de saúde é mínima diante das necessidades e bem ridícula se comparada com o que o governo manda para os bancos, para o pagamento da dívida pública que hoje é maior do que toda a riqueza que o Brasil gera por ano). A população vem crescendo - cresceu em 15% de 2000 a 2009 - enquanto o número de leitos do SUS decresceu em 26% no mesmo período. Não é preciso ser sociólogo para entender esse sucateamento. E nem é preciso ser estudioso do tema para perceber que a chamada agenda feminina dos serviços de saúde pública é uma vergonha. Os chamados direitos reprodutivos são maltratados sistematicamente. O programa integral de atenção à saúde da mulher, como o governo chama, é outra vergonha. Tudo isso mal saiu do papel da Constituição de 1988. O direito ao planejamento familiar inexiste (assistência ginecológica disponível gratuita, de qualidade e fácil acesso, métodos contraceptivos e abortivos, nada disso existe para a classe trabalhadora). Os tais conselhos de saúde são uma fraude para cooptar movimentos populares e colocá-los a serviço das antipoliticas públicas do governo.

A atenção à saúde sexual e reprodutiva da mulher no nosso país é uma piada de mau gosto. Qualquer mulher trabalhadora sabe em que estado se encontra seu direito à atenção na concepção, na pré-concepcao, parto e pós-parto. E sabe como a patronal trata dessa questão. E sabe onde anda seu direito ao atendimento à criança, nas creches no local de trabalho, seu direito à defesa efetiva contra a violência sexual. Para se fazer uma laqueadura, por exemplo, o sistema vem exigindo na prática, que a mulher tenha mais de 25 anos e dois filhos. Sem comentários. Muita mulher engravida na fila de espera da laqueadura. E isso em um país onde, na faixa dos 15-19 anos a taxa de gravidez explodiu, principalmente no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A adolescente simplesmente não tem acesso fácil e nem gratuito à atenção ginecológica, aos métodos de prevenção da gravidez e, frequentemente, sequer às informações necessárias. A escola, quando existe, é autista, é o grande ausente neste tema e não há pílulas suficientes para livre distribuição e nem preservativos. E ainda temos o papa, a Igreja, caminhando na contra-mão de todo esse processo, excomungando a mulher estuprada e livrando a barra do estuprador como ocorreu recentemente no Nordeste.

E agora nos chegam com as famigeradas Organizações Sociais e Fundações, que na verdade são uma forma do governo se desobrigar da assistência pública à saúde, através da criação dessas agências que recebem dinheiro público a rodo para terceirizarem a saúde, implantando sistemas baseados na produtividade (mais consultas em menos tempo, altas médicas antes da hora para “liberar” leitos para novos clientes, por exemplo), baseados na não-realizacao de concursos para contratação de trabalhadores, operando por fora da lei de licitações, por fora do controle do TCU, sem nenhuma transparência em suas contas, funcionando segundo leis próprias (lei das OSS) e, do ponto de vista do atendimento e da classe trabalhadora, funcionando de forma completamente pirata, predatória, precarizando e super-explorando a mão de obra e, no final de contas, representando uma verdadeira confissão, a céu aberto, da inoperância e incapacidade do governo para tocar o serviço público.

Primeiro tiram as verbas do serviço público, depois passam os recursos e também o patrimônio público para o setor privado, para os capitalistas da saúde. É assim que funciona o Hospital Francisco Morato, a Fundação Zerbini, a Maternidade Cotia e tantos outros, sob o famigerado regime de Fudações Estatais de Direito Privado. O próprio secretário de Saúde do Serra, admitiu, recentemente, que das 47 unidades da rede pública estadual paulista, 27, mais da metade delas, portanto, já são geridas por esse sistema OSS. Brutal avanço da privatização da saúde estadual. Brutal e mortal ataque ao SUS. No governo petista do estado de Sergipe acabam de criar quatro fundações para a mesma finalidade: ataque à saúde pública, privatização e terceirização mal disfarçadas. Criadas pelo governo federal em 1997 estas fundações jamais foram combatidas pelo governo Lula. Tudo ao contrário. Todo o sistema de saúde brasileiro está dominado por aquilo que deveria – segundo a lógica do próprio governo – “complementar”: hoje os planos de saúde e as OSS comandam o sistema, o lucro comanda o sistema, a lógica empresarial da maior produtividade com menos custo, cem por cento estranha à saúde humana, é dominante e vem passo a passo, sacrificando o atendimento. São os capitalistas dos planos de saúde e de suas congêneres, as OSS, que determinam que exame você pode fazer, quando pode fazer, quantas consultas por mês pode ter e assim por diante. É absolutamente criminoso determinar que uma mulher, no pré-natal, no final da gravidez, só pode ter “direito” a uma consulta por mês. Só na mente de um nazista – portanto de um empresário ou de algum mega-burocrata do governo – pode nascer esse tipo de protocolo produtivista.

E o resultado disso tudo é que o desmonte do SUS obedeceu à lógica neoliberal de favorecer o capitalismo na saúde. De turbinar indústria privada de medicamentos, de equipamentos e de planos de saúde. Com total apoio do governo vários grupos financeiros se lançaram a formar planos de saúde e, com a lenta destruição do SUS, só restava ao trabalhador que tinha certa renda procurar desesperado ter seu plano privado. O resultado desse processo é conhecido: 42 milhões de brasileiros tiveram que se socorrer do plano de saúde (se contarmos com familiares dá muito mais que 42 milhões de pessoas). Só que plano de saúde não é solução a não ser para os capitalistas da saúde. Numa ponta o plano quer reduzir gastos no atendimento, custos como eles chamam. Já trabalhei em planos de saúde e eles exigem do médico que não gere gastos com exames laboratoriais (a não ser que o plano lucre com o laboratório), com RX, com consulta demorada e nem com nada que seja a favor de elevar a qualidade no atendimento com mais custos. Na outra ponta, o plano explora o médico assalariado, paga mal e sempre faz reajustes detrás da inflação além de proletarizar toda uma massa de médicos. Lamentavelmente, uma parte destes se torna parte da máfia médica ou passa a achar que é natural tratar seres humanos como bestas, como números, aceitando a idéia idiota e nazista da produtividade a qualquer preço, das “metas a cumprir” às custas da qualidade na consulta.

Ao invés de se unirem à classe trabalhadora para impor um atendimento de qualidade, um amplo setor dos médicos e seus órgãos de classe tornam-se cúmplices do mau atendimento em aliança com a CUT, com o governo Lula, com o complexo industrial-hospitalar privado. O SUS paga 10 reais por uma consulta, o plano de saúde paga 25 reais por uma consulta, tudo uma miséria e no final de contas, fica o paciente super-mal-atendido. Resta aos médicos revolucionários procurarem, na luta cotidiana, a única porta de saída para essa armadilha: aglutinar núcleos de trabalhadoras e trabalhadores combativos para gerarmos um movimento que dê aquele passo que não foi dado quando da criação do SUS. E para que possamos deter, de uma vez por toda, essa história de genocídio programado, de um sistema que escolhe – entre os pobres - quem ele vai descartar, quem vai morrer e quem não vai morrer.

No início foi falado que a mulher trabalhadora não é atendida com a atenção que merece. E que seu direito reprodutivo – direito à sexualidade saudável, direito à proteção à maternidade e ao próprio corpo – assim como suas doenças específicas são tratadas, pela patronal, como assunto de segunda categoria e que, no final, para nós trabalhadores, resta um sistema sucateado, deixado à mingua. Não existe orientação para como atravessar a menopausa, como enfrentar a osteoporose com a boa alimentação, consumindo os alimentos que nos protegem, não existe garantia do diagnóstico a tempo de qualquer tipo de câncer, não existe a prevenção às varizes, aos problemas de pele, não existe a adequada atenção para doenças sexualmente transmissíveis, não existe a livre disponibilidade da pílula ou de todo tipo de método anticoncepcional, de métodos que permitam à mulher ter controle sobre o que é seu, seu próprio corpo, de ser feliz com ele, de poder ver seu filho crescer em creches no local de trabalho, de dispor de locais onde comer e onde lavar a roupa sem ter que comer porcaria em lanchonete e sem ter que trazer sua marmita de casa. Tudo isso foi pontuado.

Mas antes de finalizar é importante não deixar de sublinhar que nada disso será conquistado sem luta. Nada disso nos chegará por misericórdia da classe dominante ou de qualquer patronal. Se o problema fosse de misericórdia – ou de cidadania, um termo que supõe a ficção do Estado neutro ou popular – eles não deixariam que o câncer ceifasse vidas desnecessariamente. É o segmento feminino quem mais pesadamente e definitivamente suporta o impacto da gravidez indesejada, por exemplo. Onde andam, então, a Lei do Planejamento Familiar, a própria Constituição de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Programa de humanização do pré-natal e tanta papelada que o governo divulga – em nome da cidadania - sobre a saúde da mulher? O Estatuto da Criança e do Adolescente garante alojamento conjunto para mãe e neonato, garante alimentação durante toda a amamentação; alguém já viu isso? Onde? Quanto mais editam leis e normas mais se reduz o orçamento público e mais se sucateia e privatiza a atenção sanitária. E o parto normal? Por que no Brasil não se vê mais parto normal?

Vale para o homem e vale para a mulher: o homem vem morrendo em massa com o câncer de próstata; a pergunta óbvia: porque não disponibilizam, em massa, gratuitamente, o exame de sangue para o câncer de próstata (o PSA), a ecografia de abdômen inferior, de próstata, para toda a classe trabalhadora? Além do urologista disponível a tempo e a hora? Porque não orientam e não instruem aos trabalhadores sobre a relação alimentação e câncer? Porque alimentos protetores para a saúde são tão caros e de tão difícil acesso? Por que não produzem alimentos sem agrotóxicos? Vai ser preciso lutar por isso. E essa ofensiva anti-operária e contra a saúde da mulher veio crescendo justamente no bojo do recuo das nossas lutas, da ofensiva neoliberal dos últimos quase vinte anos.

O objetivo do sistema capitalista não pode ser outro. Justamente porque o objetivo deles é produzir uma mão de obra cada vez mais precarizada, uma classe trabalhadora cada vez mais dividida, de tal forma que hoje encontramos no mesmo corredor do hospital ou da faculdade, três companheiras trabalhando na limpeza e na manutenção, sendo uma delas CLT, outra delas autárquica (funcionária pública) e a outra delas sem direito algum, terceirizada. Eles querem criar uma raça de mulheres semi-escravas e jogar contra a outra, contra as quase-escravas e estas contra a outra, das carteira-assinada. E isso em um país onde a mulher é mais de 50% da mão de obra, recebendo, no entanto, 40% menos de salário.

A força de toda forma, se formos ao combate, como vocês estão indo, é nossa. Temos que lutar para varrer com tudo isso. O SINTUSP vem dando um exemplo, a secretaria de mulheres do SINTUSP está dando o exemplo, quando reúne trabalhadoras combativas, em greve, em plena paralisação, para discutir essas questões na perspectiva revolucionária que é a da luta para unir a classe trabalhadora em torno do seu programa. Saúdo o companheiro Brandão – por cuja readmissão vocês vêm lutando – e seu sindicato como um exemplo do bom combate, do bom programa (de unidade dos terceirizados e não-terceirizados), da boa luta para que a mulher trabalhadora entenda que ou nós somos lutadores e lutadoras, pelo direito de creche, pelo direito da mulher à sua saúde e proteção à saúde, ou nós não somosnada. A burocracia sindical abandonou o SUS à sua própria sorte, deixou-o nas mãos da burguesia da saúde que está transformando tudo em mercadoria, acumulando capital numa ponta, miséria na outra; a nossa luta deve começar por ser, por isso mesmo, antiburocrática, contra todo tipo de burocracia dentro da classe trabalhadora e, partindo das bases, reconstruirmos um movimento sindical e de local de trabalho que defina bandeiras de luta e de unidade da classe em torno dessas bandeiras.
Saúdo companheiros e companheiras como Brandão, Dinizete, Diana e todos os aqui presentes e que contam desde já com nossa simpatia e solidariedade para o grande combate que mal começou. E pela luta que para vocês é urgente e imediata, inclusive pelo próprio direito de greve, hoje ameaçado pelo corte do ponto, a partir da reitoria e do governo Serra e, no final de contas, acobertados pelo modo petista de fazer sindicalismo que é o que impede, neste momento, uma ampla campanha nacional de solidariedade com a greve de vocês.

Saúde da mulher: Mudança de rumos...



Iniciamos um novo estágio nessa caminhada profissional passando a navegar sobre os desafios da témática da saúde da Mulher. Imaginamos caminhos com obstáculos, obscuros, desconhecidos, intrigantes...

Pretendemos percorrê-los atentas aos novos indicativos. Porém movidas pela mesma marca do entusiasmo; da paixão pelo aprendizado; do esforço pela criatividade, e da possibilidade de trocas de vivências significativas, prazeirosas, gratificantes e acrescentadoras...
Sabemos do quanto o nosso menor é fundamental aos nossos usuários. Estamos cientes de que nunca alcançaremos o melhor. Porém, não há como evitar a paixão pela idéia de que um dia nosso sonho de igualdade humana seja o capital mais precioso.

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"Nada que VIVE, vive só ou pra si..."

"Dia do assistente social" - maio de 2008

"Envelhecimento humano e cidadania da pessoa idosa"