Vladimir Ilitch Ulianov Lênin
Bem vindos!
Considerando-se a grande diversidade e dinamicidade das expressões da questão social, a troca de vivências profissionais tem relevante papel no intuito de qualificação da assistência prestada e na construção do projeto ético-político sintonizado com os anseios de igualdade e de justiça social.
Veja também as seções de apresentações em Power Point, dicas de filmes, sites e bibliografia.Se possível, deixe seu comentário. Ele, certamente, contribuirá para melhorar o espaço e catalizar o potencial para outras iniciativas.
Se desejar, entre contato pelo e-mail ou add no MSN, Facebook, Twitter ou Orkut.
Um grande abraço.
Tereza Cristina
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Sonhos: acredite neles!
Vladimir Ilitch Ulianov Lênin
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Serviço Social e atenção integral à saúde da mulher. Considerações sobre a ação profissional no Serviço de Ginecologia do HFB.
Tais referenciais expostos, buscam o direcionamento da ação0 profissional pelo arcabouço teórico-metodológico e ético-político do Serviço Social, sobretudo na área da saúde, favorecendo a superação da subalternidade às diretrizes institucionais à qual a profissão foi historicamente submetida, e reafirmando o compromisso com a justiça social e com a democratização do acesso dos usuários aos seus direitos.
- Qualificar as ações envolvendo a Saúde da Mulher e a Saúde reprodutiva para além do caráter clínico, garantindo um espaço crítico e de informação, favorecendo o exercício do direito com autonomia;
- Buscar a adequação à lei referente ao Planejamento Familiar;
- Identificar situações de risco social que limitem o papel de proteção social da família, as quais possam estar associadas à necessidade de interrupção do ciclo reprodutivo; e
- Emitir parecer para o Serviço de Urologia, amparando a realização do procedimento cirúrgico com os aspectos previsto em lei.
Texto primoroso sobre a Saúde da Mulher!
sexta-feira, 11 de junho de 2010
A saúde da mulher no contexto da decadência do SUS e da degradação da qualidade social de vida da mulher trabalhadora
Meses atrás foi divulgada por uma pesquisadora e estudiosa da saúde pública da mulher brasileira, uma dissertação de mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina, um trabalho feito com mulheres portadoras de câncer de mama que é muito revelador e deve funcionar como um alerta para a mulher trabalhadora.
Esta profissional da saúde estudou durante cinco anos mil prontuários de mulheres que tiveram diagnóstico de câncer de mama em estágio mais ou menos inicial; acompanhou a evolução – com tratamento - de todos os casos durante cinco anos e ao final do estudo concluiu o seguinte: quase 100% das mulheres que sobreviviam ao câncer de mama tinham título universitário, portanto um grau de renda diferenciado, alto em relação à média da mulher brasileira; das mulheres que já tinham morrido em cinco anos, mais da metade pertenciam à categoria de mulheres negras, analfabetas e, portanto, de baixa renda. Estas mulheres apresentaram um risco 7,4 vezes maior de morrer, se comparadas com as mulheres de mais renda. Em outras palavras, o que ficou ali demonstrado foi que para mulheres jovens que são analfabetas e não-brancas, o diagnóstico de câncer de mama é uma condenação à morte.
Nós estamos falando do câncer de mama, aquele irá trazer 50 mil novos casos no Brasil em 2010 segundo o Instituto Nacional do Câncer, de uma doença que é extremamente agressiva em mulheres jovens (menos de 30 anos), mas com certeza poderíamos falar algo parecido em relação ao câncer de colo uterino – um câncer de prevenção baratíssima e segura – como também se poderia falar coisa parecida dos demais tipos de doenças malignas que mais matam mulheres: se não considerarmos o câncer de pele, em mulheres, os mais freqüentes serão mama, colo do útero, intestino, pulmão e estômago. Ao final da pesquisa, a sua autora, Ione Schneider, estava perplexa e disse que embora já se soubesse muito bem que as trabalhadoras mais pobres só sabiam do diagnóstico do câncer de mama tarde demais em relação às mais ricas mas o que ela não sabia e que a sua pesquisa mostrou claramente, é que a escolaridade, a condição social, tivesse influência tão determinante na sobrevida de mulheres já diagnosticadas com essa doença.
Primeira conclusão: o câncer de mama, antes de ser um problema médico, é muito mais um problema da renda e das condições de vida social da mulher; quem vai decidir, em última instância e em grande escala quem deve morrer ou quem não deve morrer do câncer de mama é a renda e a posição social. E neste item, portanto, a mulher trabalhadora, precarizada, mais explorada economicamente é quem será escolhida para morrer. Evidentemente se trata de um crime, mesmo que não seja tratado como um crime. E evidentemente a mulher explorada já sabia e já sabe disso antes de qualquer estatística: tem plena consciência prática de que para marcar uma simples mamografia, uma simples consulta ginecológica ou até um simples Papanicolau (exame de lâmina, básico para prevenção do câncer de colo de útero), ela sabe que vai percorrer o inferno para conseguir ser atendida e sabe-se-lá se vai conseguir ser atendida a tempo ou se será atendida com a atenção que merece.
A pesquisa mostrou que a mulher trabalhadora pobre/desempregada/precarizada, será aquela que vai ser escolhida para morrer e justamente porque além de não contar com os alimentos, o descanso e as condições de vida e trabalho para poder não gerar e nem alimentar a doença, ela tampouco vai encontrar a proteção e a cura quando for atingida pela doença. Um tumor de mama de até um centímetro, por exemplo, adequadamente tratado é perfeitamente curável, praticamente 100% curável enquanto um tumor de mais de um centímetro, de dois, de três, de cinco, dificilmente encontrará a cura. Coisa semelhante ocorre em outras doenças.
Ou seja, a mesma regra – o descaso do governo - vale para uma série de doenças que atingem especialmente ou exclusivamente o gênero feminino. Podemos citar várias delas, cada uma por si só merecedora de uma palestra: a dura travessia da menopausa e que inclui a osteoporose, o cisto de ovário, o câncer de colo uterino, o mioma, a endometriose, as doenças sexualmente transmissíveis da mulher, os problemas da tensão pré-menstrual, as dificuldades e doenças do exercício da sexualidade e do direito à reprodução (que inclui métodos de prevenção da gravidez, direito ao aborto e naturalmente o direito ao acompanhamento pré-natal, durante e depois da gravidez, inclusive direito à amamentação e à creche) e assim por diante.
Em nenhum destes casos pode-se falar que a mulher trabalhadora está sequer sofrivelmente bem atendida. Câncer de mama, câncer de colo uterino estão virando uma praga. Ao mesmo tempo, sem muita divulgação, quase 70 mil mulheres morrem por ano devido a complicações de um aborto feito em condições de risco. Só em 2006 o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 221 mil internações por complicações de abortos.
Morrem 70 mulheres para cada 100 mil partos, morrem do parto; a tal ponto que esse problema gerou uma CPI em 2000 que, como era de se esperar, não deu em nada.
E se falarmos de homens e mulheres, a previsão para 2010 é de meio milhão de casos novos de câncer, sendo os mais freqüentes, os de pele (não melanoma), próstata e mama.
A massa de mulheres – e neste caso também de homens – da classe trabalhadora é submetida a condições de trabalho e de vida que são uma verdadeira fábrica de doenças esta é a primeira questão que deve ser levada em conta quando se pensa na saúde da mulher; e a segunda questão é que o nosso sistema de proteção e atenção à saúde pública, o SUS, construído para ser universal, accessível e gratuito está se tornando o inferno de filas, o inferno de falta de equipamento e de concentração de miseráveis condições de atendimento.
Em Brasília uma mulher – naturalmente da classe trabalhadora, pobre – tem que esperar oito meses, ou um ano para poder fazer uma cirurgia de mioma; tem que esperar meses atrás de uma mamografia e no parto, quando chega o momento do parto, no Brasil, ela vem sendo vítima de uma verdadeira “epidemia” de cesárias, uma cirurgia na esmagadora maioria da vezes desnecessária e anti-natural na qual o Brasil é tristemente campeão senão um dos campeões mundiais, já denunciado pela Organização Mundial de Saúde, que recomenda que 15% é o máximo aceitável de número de nascimentos por cesárea enquanto no Brasil se pratica 80%. Oitenta por cento dos bebes que nascem, vêem ao mundo na base do bisturi, com todas as conseqüências negativas que isso traz para o bebê e para a mãe. O sistema sai ganhando com as cesáreas, o médico inescrupuloso sai ganhando com as cesáreas, a indústria capitalista sai ganhando com a indústria médica das cesáreas (pelas quais se paga mais do que o parto normal).
E aqui é inevitável que tenhamos que tratar do problema do complexo médico-industrial da saúde, assim como da indústria dos planos de saúde, da mercantilização dos serviços de saúde, dos planos de saúde e das OSS, Organizações Sociais, entidades criadas pelo governo para terceirizar e precarizar os serviços públicos de saúde e também é preciso que se tenha claro sobre como tudo isso terminou reduzindo o SUS – uma conquista das mobilizações da classe trabalhadora dos anos 80 – quase a um engodo, quase a pó.
A história é conhecida de vocês, especialmente das veteranas dos movimentos sociais: só depois de muita luta o governo chegou a criar um sistema como o do antigo INAMPS-INSS e, mesmo assim, na condição de um sistema público de atenção médica apenas aberto a quem tinha carteira de trabalho. Veio a ditadura (para esmagar os movimentos sociais), veio a derrubada da ditadura através dos novos movimentos sociais, de rua e vieram os grandes combates da classe trabalhadora que terminaram levando o governo a criar o SUS; primeiro inscrito na Constituição de 1988 e em seguida propagandeado pelos sucessivos governos como um brinde ou uma concessão quando na verdade era uma clara conquista da classe trabalhadora; sem mobilização e luta dos de baixo nenhum governo jamais quis criar um SUS da mesma forma que nenhuma patronal vai querer reduzir seus custos de produção para liberar a mulher que amamenta ou priorizar a saúde da mulher trabalhadora.
É uma grande bobagem confiar em qualquer patronal. E esse foi o problema já na própria criação do SUS: a CUT, os sindicatos que então eram combativos e que depois terminaram tristemente domesticados e estatizados pelo governo Lula, submissos ao governo Lula (que hoje não é diferente de nenhum governo dos banqueiros), não deram o passo seguinte após a criação do SUS. (Um sistema que, por sinal, já nasceu contaminado pela privatização quando com a Constituição de 1988 cria-se o sistema complementar, privado, que hoje vem a ser é dominante). Este passo seguinte que não foi dado, seria precisamente a luta pelo controle do SUS pelos trabalhadores e, ao lado disso, a criação da indústria de medicamentos pública, estatal (uma Remediobrás que barateasse preço de todo medicamento e incentivasse toda pesquisa médica a favor do povo) e a estatização da indústria de equipamentos médicos sob controle dos operários. Não se fez isso.
O movimento sindical e as mobilizações históricas da classe trabalhadora dos anos 70 e oitenta impuseram o SUS, permitiram a chamada “reforma sanitária”, mas ao não darem o passo seguinte de implantação de um verdadeiro SUS (e não isso que está aí, conformado com uma medicina de segunda, uma medicina precarizada, medicina “de pobre” como eles mesmos chamam), ao não irem adiante, a porta ficou aberta para os famigerados planos de saúde, para o mercenário complexo médico-industrial-hospitalar, para a elitização da medicina e a criminosa situação em que está jogada a saúde da mulher e a prevenção das doenças de homens e mulheres.
A atenção à saúde sexual e reprodutiva da mulher no nosso país é uma piada de mau gosto. Qualquer mulher trabalhadora sabe em que estado se encontra seu direito à atenção na concepção, na pré-concepcao, parto e pós-parto. E sabe como a patronal trata dessa questão. E sabe onde anda seu direito ao atendimento à criança, nas creches no local de trabalho, seu direito à defesa efetiva contra a violência sexual. Para se fazer uma laqueadura, por exemplo, o sistema vem exigindo na prática, que a mulher tenha mais de 25 anos e dois filhos. Sem comentários. Muita mulher engravida na fila de espera da laqueadura. E isso em um país onde, na faixa dos 15-19 anos a taxa de gravidez explodiu, principalmente no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A adolescente simplesmente não tem acesso fácil e nem gratuito à atenção ginecológica, aos métodos de prevenção da gravidez e, frequentemente, sequer às informações necessárias. A escola, quando existe, é autista, é o grande ausente neste tema e não há pílulas suficientes para livre distribuição e nem preservativos. E ainda temos o papa, a Igreja, caminhando na contra-mão de todo esse processo, excomungando a mulher estuprada e livrando a barra do estuprador como ocorreu recentemente no Nordeste.
E agora nos chegam com as famigeradas Organizações Sociais e Fundações, que na verdade são uma forma do governo se desobrigar da assistência pública à saúde, através da criação dessas agências que recebem dinheiro público a rodo para terceirizarem a saúde, implantando sistemas baseados na produtividade (mais consultas em menos tempo, altas médicas antes da hora para “liberar” leitos para novos clientes, por exemplo), baseados na não-realizacao de concursos para contratação de trabalhadores, operando por fora da lei de licitações, por fora do controle do TCU, sem nenhuma transparência em suas contas, funcionando segundo leis próprias (lei das OSS) e, do ponto de vista do atendimento e da classe trabalhadora, funcionando de forma completamente pirata, predatória, precarizando e super-explorando a mão de obra e, no final de contas, representando uma verdadeira confissão, a céu aberto, da inoperância e incapacidade do governo para tocar o serviço público.
Primeiro tiram as verbas do serviço público, depois passam os recursos e também o patrimônio público para o setor privado, para os capitalistas da saúde. É assim que funciona o Hospital Francisco Morato, a Fundação Zerbini, a Maternidade Cotia e tantos outros, sob o famigerado regime de Fudações Estatais de Direito Privado. O próprio secretário de Saúde do Serra, admitiu, recentemente, que das 47 unidades da rede pública estadual paulista, 27, mais da metade delas, portanto, já são geridas por esse sistema OSS. Brutal avanço da privatização da saúde estadual. Brutal e mortal ataque ao SUS. No governo petista do estado de Sergipe acabam de criar quatro fundações para a mesma finalidade: ataque à saúde pública, privatização e terceirização mal disfarçadas. Criadas pelo governo federal em 1997 estas fundações jamais foram combatidas pelo governo Lula. Tudo ao contrário. Todo o sistema de saúde brasileiro está dominado por aquilo que deveria – segundo a lógica do próprio governo – “complementar”: hoje os planos de saúde e as OSS comandam o sistema, o lucro comanda o sistema, a lógica empresarial da maior produtividade com menos custo, cem por cento estranha à saúde humana, é dominante e vem passo a passo, sacrificando o atendimento. São os capitalistas dos planos de saúde e de suas congêneres, as OSS, que determinam que exame você pode fazer, quando pode fazer, quantas consultas por mês pode ter e assim por diante. É absolutamente criminoso determinar que uma mulher, no pré-natal, no final da gravidez, só pode ter “direito” a uma consulta por mês. Só na mente de um nazista – portanto de um empresário ou de algum mega-burocrata do governo – pode nascer esse tipo de protocolo produtivista.
E o resultado disso tudo é que o desmonte do SUS obedeceu à lógica neoliberal de favorecer o capitalismo na saúde. De turbinar indústria privada de medicamentos, de equipamentos e de planos de saúde. Com total apoio do governo vários grupos financeiros se lançaram a formar planos de saúde e, com a lenta destruição do SUS, só restava ao trabalhador que tinha certa renda procurar desesperado ter seu plano privado. O resultado desse processo é conhecido: 42 milhões de brasileiros tiveram que se socorrer do plano de saúde (se contarmos com familiares dá muito mais que 42 milhões de pessoas). Só que plano de saúde não é solução a não ser para os capitalistas da saúde. Numa ponta o plano quer reduzir gastos no atendimento, custos como eles chamam. Já trabalhei em planos de saúde e eles exigem do médico que não gere gastos com exames laboratoriais (a não ser que o plano lucre com o laboratório), com RX, com consulta demorada e nem com nada que seja a favor de elevar a qualidade no atendimento com mais custos. Na outra ponta, o plano explora o médico assalariado, paga mal e sempre faz reajustes detrás da inflação além de proletarizar toda uma massa de médicos. Lamentavelmente, uma parte destes se torna parte da máfia médica ou passa a achar que é natural tratar seres humanos como bestas, como números, aceitando a idéia idiota e nazista da produtividade a qualquer preço, das “metas a cumprir” às custas da qualidade na consulta.
Ao invés de se unirem à classe trabalhadora para impor um atendimento de qualidade, um amplo setor dos médicos e seus órgãos de classe tornam-se cúmplices do mau atendimento em aliança com a CUT, com o governo Lula, com o complexo industrial-hospitalar privado. O SUS paga 10 reais por uma consulta, o plano de saúde paga 25 reais por uma consulta, tudo uma miséria e no final de contas, fica o paciente super-mal-atendido. Resta aos médicos revolucionários procurarem, na luta cotidiana, a única porta de saída para essa armadilha: aglutinar núcleos de trabalhadoras e trabalhadores combativos para gerarmos um movimento que dê aquele passo que não foi dado quando da criação do SUS. E para que possamos deter, de uma vez por toda, essa história de genocídio programado, de um sistema que escolhe – entre os pobres - quem ele vai descartar, quem vai morrer e quem não vai morrer.
No início foi falado que a mulher trabalhadora não é atendida com a atenção que merece. E que seu direito reprodutivo – direito à sexualidade saudável, direito à proteção à maternidade e ao próprio corpo – assim como suas doenças específicas são tratadas, pela patronal, como assunto de segunda categoria e que, no final, para nós trabalhadores, resta um sistema sucateado, deixado à mingua. Não existe orientação para como atravessar a menopausa, como enfrentar a osteoporose com a boa alimentação, consumindo os alimentos que nos protegem, não existe garantia do diagnóstico a tempo de qualquer tipo de câncer, não existe a prevenção às varizes, aos problemas de pele, não existe a adequada atenção para doenças sexualmente transmissíveis, não existe a livre disponibilidade da pílula ou de todo tipo de método anticoncepcional, de métodos que permitam à mulher ter controle sobre o que é seu, seu próprio corpo, de ser feliz com ele, de poder ver seu filho crescer em creches no local de trabalho, de dispor de locais onde comer e onde lavar a roupa sem ter que comer porcaria em lanchonete e sem ter que trazer sua marmita de casa. Tudo isso foi pontuado.
Mas antes de finalizar é importante não deixar de sublinhar que nada disso será conquistado sem luta. Nada disso nos chegará por misericórdia da classe dominante ou de qualquer patronal. Se o problema fosse de misericórdia – ou de cidadania, um termo que supõe a ficção do Estado neutro ou popular – eles não deixariam que o câncer ceifasse vidas desnecessariamente. É o segmento feminino quem mais pesadamente e definitivamente suporta o impacto da gravidez indesejada, por exemplo. Onde andam, então, a Lei do Planejamento Familiar, a própria Constituição de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Programa de humanização do pré-natal e tanta papelada que o governo divulga – em nome da cidadania - sobre a saúde da mulher? O Estatuto da Criança e do Adolescente garante alojamento conjunto para mãe e neonato, garante alimentação durante toda a amamentação; alguém já viu isso? Onde? Quanto mais editam leis e normas mais se reduz o orçamento público e mais se sucateia e privatiza a atenção sanitária. E o parto normal? Por que no Brasil não se vê mais parto normal?
Vale para o homem e vale para a mulher: o homem vem morrendo em massa com o câncer de próstata; a pergunta óbvia: porque não disponibilizam, em massa, gratuitamente, o exame de sangue para o câncer de próstata (o PSA), a ecografia de abdômen inferior, de próstata, para toda a classe trabalhadora? Além do urologista disponível a tempo e a hora? Porque não orientam e não instruem aos trabalhadores sobre a relação alimentação e câncer? Porque alimentos protetores para a saúde são tão caros e de tão difícil acesso? Por que não produzem alimentos sem agrotóxicos? Vai ser preciso lutar por isso. E essa ofensiva anti-operária e contra a saúde da mulher veio crescendo justamente no bojo do recuo das nossas lutas, da ofensiva neoliberal dos últimos quase vinte anos.
O objetivo do sistema capitalista não pode ser outro. Justamente porque o objetivo deles é produzir uma mão de obra cada vez mais precarizada, uma classe trabalhadora cada vez mais dividida, de tal forma que hoje encontramos no mesmo corredor do hospital ou da faculdade, três companheiras trabalhando na limpeza e na manutenção, sendo uma delas CLT, outra delas autárquica (funcionária pública) e a outra delas sem direito algum, terceirizada. Eles querem criar uma raça de mulheres semi-escravas e jogar contra a outra, contra as quase-escravas e estas contra a outra, das carteira-assinada. E isso em um país onde a mulher é mais de 50% da mão de obra, recebendo, no entanto, 40% menos de salário.
A força de toda forma, se formos ao combate, como vocês estão indo, é nossa. Temos que lutar para varrer com tudo isso. O SINTUSP vem dando um exemplo, a secretaria de mulheres do SINTUSP está dando o exemplo, quando reúne trabalhadoras combativas, em greve, em plena paralisação, para discutir essas questões na perspectiva revolucionária que é a da luta para unir a classe trabalhadora em torno do seu programa. Saúdo o companheiro Brandão – por cuja readmissão vocês vêm lutando – e seu sindicato como um exemplo do bom combate, do bom programa (de unidade dos terceirizados e não-terceirizados), da boa luta para que a mulher trabalhadora entenda que ou nós somos lutadores e lutadoras, pelo direito de creche, pelo direito da mulher à sua saúde e proteção à saúde, ou nós não somosnada. A burocracia sindical abandonou o SUS à sua própria sorte, deixou-o nas mãos da burguesia da saúde que está transformando tudo em mercadoria, acumulando capital numa ponta, miséria na outra; a nossa luta deve começar por ser, por isso mesmo, antiburocrática, contra todo tipo de burocracia dentro da classe trabalhadora e, partindo das bases, reconstruirmos um movimento sindical e de local de trabalho que defina bandeiras de luta e de unidade da classe em torno dessas bandeiras.
Saúdo companheiros e companheiras como Brandão, Dinizete, Diana e todos os aqui presentes e que contam desde já com nossa simpatia e solidariedade para o grande combate que mal começou. E pela luta que para vocês é urgente e imediata, inclusive pelo próprio direito de greve, hoje ameaçado pelo corte do ponto, a partir da reitoria e do governo Serra e, no final de contas, acobertados pelo modo petista de fazer sindicalismo que é o que impede, neste momento, uma ampla campanha nacional de solidariedade com a greve de vocês.
Saúde da mulher: Mudança de rumos...
Iniciamos um novo estágio nessa caminhada profissional passando a navegar sobre os desafios da témática da saúde da Mulher. Imaginamos caminhos com obstáculos, obscuros, desconhecidos, intrigantes...
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Educação e saúde e assistência de alta complexidade Uma experiência do Serviço Social com grupo.
Por: Tereza Cristina Silva e Tatiane Cristina da Paixão Reis.(*)
Introdução.
As mudanças jurídicas implementadas nas políticas sociais a partir de 1988, em particular na política de saúde, ampliaram o espaço profissional do assistente social, na medida em que enfatizam a saúde para além do aspecto biológico, englobando a compreensão sobre os demais fatores envolvidos no processo saúde-doença.
A concepção de saúde adotada no Sistema Único de Saúde - SUS busca superar as distorções do modelo assistencial que estabelecia as dicotomias entre curativo e preventivo, individual e coletivo. As práticas educativas voltadas para a reflexão sobre as condições de vida e trabalho assumem um caráter relevante no atual modelo de saúde, envolvendo as ações nos diversos níveis assistenciais (primário, secundário, terciário e quaternário).
Entretanto, no cotidiano do espaço profissional da saúde, verifica-se que, na prática, não houve a quebra do paradigma tradicional clínico. Os assistentes sociais continuam sendo requisitados para atribuições desvirtuadas das que constam no seu estatuto profissional, prevalecendo as requisições para ações burocráticas, fragmentadas e desqualificadas, tais como: transferência de pacientes; comunicados de alta ou de internação; confecção de autorização para acompanhante...
A apreensão sobre a determinação social do processo saúde-doença pelos assistentes sociais contribui para a configuração do conceito-ampliado de saúde, o qual concebe as condições de alimentação; renda; moradia; transporte; lazer; educação; meio ambiente; cultura..., bem como referencia a ação profissional no sentido da defesa da universalização e ampliação dos direitos.
No Serviço do Coração do Hospital Geral de Bonsucesso- HGB, a cirurgia cardíaca tem relevância central na organização dos serviços. Apesar da característica de assistência de alta complexidade, na qual o caráter curativo tem proeminência, a abordagem sobre situações sociais vem adquirindo papel importante, dado a visibilidade das possíveis mudanças (funcional, comunitária, afetiva, sexual...) na vida do paciente e sua família pós cirurgia, as quais repercutem no processo de adoecimento e de recuperação, assim como se associam aos índices de reinternação.
A partir do GRUPISCO - Grupo de pacientes internados no Serviço do Coração, o Serviço Social vem atuando no sentido da compreensão sobre os diversos aspectos presentes no processo de adoecimento e de hospitalização. A metodologia desenvolvida baseia-se na concepção de Educação e Saúde, a qual privilegia a valorização da vivência do usuário enquanto sujeito coletivo e a interação entre os saberes técnico e do paciente.
Nesse sentido concordamos com Vasconcelos (2000) quando diz que a abordagem grupal é um instrumento necessário na atuação do serviço social, visto que possibilita os usuários perceberem o que há de coletivo em suas demandas, ainda que as mesmas sejam tomadas individualmente.
Este artigo visa assim problematizar a importância das práticas educativas nos serviços de alta complexidade, com base no direcionamento da ação profissional pelos referenciais teórico-metodológicos e ético-políticos do Serviço Social, favorecendo a superação da subalternidade às diretrizes institucionais à qual a profissão foi historicamente submetida.
Conceito ampliado de Saúde e assistência de alta complexidade.
O atual modelo de saúde preconizado no SUS e configurado no texto constitucional de 1988, resultante das conquistas do movimento sanitário, coloca-se como contraponto ao modelo tradicional que estabelecia dicotomias entre curativo e preventivo, individual e coletivo, por meio de práticas assistenciais fortemente centradas em hospitais, restritas aos contribuintes previdenciários.
O modelo tradicional, denominado modelo flexneriano foi oriundo do pensamento médico ocidental do século XVIII e representa as bases do desenvolvimento da clínica e do surgimento do hospital. Desenvolvido na Escola Norte americana, enfatiza a especialização da medicina individual, tendo produzido grandes e profundas influências na formação médica e nos moldes organizacional e funcional do sistema público de saúde.
O atual modelo assistencial implementado no Sistema Único de Saúde teve seus fundamentos no movimento da Reforma Sanitária, e seus princípios e diretrizes incorporados na Constituição de 1988 e, posteriormente, na Lei 8080/90.
O modelo do SUS surge assim como um novo paradigma na atenção à saúde, cujos princípios e diretrizes rompem com o paradigma clínico flexneriano, exigindo uma nova forma de organização das ações e serviços de saúde.
Assim, o modelo assistencial do SUS concebe a saúde em seu sentido ampliado, envolvendo as condições de vida (habitação, alimentação, transporte, cultura, lazer,...) e de trabalho. Tal conceito contraria o entendimento da saúde enquanto um “bem de troca”, mas, como um “bem comum”, abrangendo promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação. Por conseguinte, deve ser considerada como um componente e exercício da cidadania.
A adoção do conceito ampliado de saúde implica considerar que a produção de saúde é determinada socialmente, tendo o princípio da integralidade na assistência como um grande desafio.
O reconhecimento sobre a determinação social no processo saúde-doença é retratada não só na Constituição Federal e na Lei 8080, a qual rege o SUS. Em março de 2006, é estabelecida a Comissão Nacional de Determinantes Sociais em Saúde, através do Decreto Presidencial.
Apesar dos significativos avanços presentes no atual modelo de saúde, na prática, o modelo tradicional médico-assistencial ainda tende a ser predominante no cotidiano do espaço profissional da saúde. Verifica-se que não houve a quebra do paradigma tradicional clínico, sobretudo no que se refere à assistência de alta complexidade[1], já que o enfoque nas ações preventivas e de “promoção à saúde” destinam-se, basicamente, à assistência primária implementadas pelo Programa Saúde da Família – PSF, os quais tem a marca do caráter focal, precarizado e desarticulados dos demais níveis assistenciais e das demais políticas setoriais, conforme a conceituação de Seguridade Social, a qual define a articulação entre as políticas de saúde, previdência e assistência social.
No Serviço do Coração do Hospital Geral de Bonsucesso- HGB, a cirurgia cardíaca tem relevância central na organização dos serviços. Observa-se a proeminência do caráter curativo nas práticas assistenciais, apesar de as condições sociais repercutirem no processo de adoecimento e de recuperação, bem como associarem-se aos índices de reinternação.
Detectar e interpretar os determinantes sociais do processo saúde-doença, exige do Assistente Social a competência técnica, política, ética e técnico-operativa, de forma a superar a ação profissional subordinada e acrítica diante da predominância do modelo assistencial clínico.
A abordagem sobre as expressões adquiridas pela questão social no Serviço do Coração incide não apenas sobre as demandas explícitas colocadas ao Serviço Social. Visa interpretar os condicionantes implícitos das mesmas no sentido de ir além do encaminhamento pontual.
Busca-se estabelecer espaços de reflexão, seja nas abordagens individuais ou grupais, de forma a favorecer a problematização das contradições sociais, com base na compreensão da realidade social em sua totalidade, esta concebida no contexto histórico e contraditório do atual estágio da sociedade capitalista.
A ação reflexiva coloca-se enquanto estratégia privilegiada na socialização das informações e na superação da cotidianidade e desvendamento da realidade a favor do processo de sua transformação histórica, tanto nos aspectos estruturais como nas construções estabelecidas nas diversas instâncias nas quais se desenvolvem as relações sociais (relações familiares; de gênero; étnicas; intergeracionais; raciais...).
A aplicação do conceito ampliado de saúde, conforme o modelo adotado pelo SUS, incide na ampliação do espaço sócio-ocupacional dos assistentes sociais, atribuindo relevância ao seu papel profissional, a medida que a assistência integral envolve a compreensão sobre a determinação social do processo saúde-doença.
Entretanto, a efetivação de tal papel realiza-se de forma conflituosa no processo de trabalho em saúde, seja devido a limitação de uma consciência sanitária e da concepção ampliada de saúde no interior da equipe multidisciplinar, consubstanciada na desorganização do seu processo de trabalho; seja devidos aos fatores macrossociais (restrição de recursos institucionais; crescimento da demanda social; clientelismo; lógica de produtividade no sistema...), os quais contrariam os princípios do SUS e o modelo assistencial dele decorrente.
A limitação na consciência sanitária reflete uma assistência centrada na especialidade médica, na qual os demais profissionais são tidos como subordinados à prática médica.
Tal contexto, provoca, frequentemente, uma contradição entre o que o assistente social considera como demanda social e o que se coloca enquanto demanda institucional ao Serviço Social. O desvirtuamento das atribuições do assistente social, as quais constam no seu estatuto profissional, aparece a partir de requisições burocráticas e desqualificadas, por parte de outros segmentos profissionais. O confronto, na busca da legitimação profissional, acentua fragmentação da equipe multidisciplinar, prejudicando a construção do sentido da interdisciplinaridade.
A elaboração de respostas profissionais requer dos assistentes sociais a correta interpretação sobre a determinação social do processo saúde-doença, considerando-se a necessária compreensão de que o seu trabalho não se desenvolve independentemente das circunstâncias do contexto conjuntural e institucional que o determinam.
Com base em Vasconcelos (2000) compreende-se que a busca de informações sobre determinadas especialidades médicas contribui na democratização e interpretação das mesmas junto aos usuários. Entretanto, conforme a mesma autora, este não é o fim último do trabalho profissional, o qual tem como objetivo contribuir para a universalização e ampliação dos direitos.
A autora lembra que a sobrecarga com a ação burocratizada e fragmentada limita a criação de espaços de reflexão de forma sistemática e continuada sobre as condições de vida e de trabalho envolvidas no processo saúde-doença.
Ao assistente social, caberá como papel principal o de operacionalizar mediações, as quais contribuam para a efetivação da condição de cidadania dos usuários, facilitando o acesso e informação da população sobre seus direitos, não só no sentido de realizar os devidos encaminhamentos aos recursos institucionais disponíveis, mas também de refletir junto aos pacientes e seus familiares sobre a realidade social na qual se insere o processo saúde-doença e sobre as formas de promoção, proteção e recuperação da saúde em diferentes níveis, seja nas abordagens individuais ou grupais.
A criação de espaços para a democratização de informações, o exercício de relações solidárias, de troca de experiências e apoio contribui para que os usuários se sintam fortalecidos na sua luta política por seus direitos, a medida que passam a distinguir suas necessidades e interesses fundamentais enquanto sujeitos coletivos.
Educação e saúde e Serviço Social.
A prática reflexiva no Serviço Social consiste em estratégia fundamental no direcionamento da ação profissional para os objetivos que contribuam para a ampliação da cidadania e construção da sociedade democrática.
Conforme destaca Vasconcelos (1997: 135), a existência de um direito social não determina o acesso a ele como tal. A descaracterização do acesso ao direito formal enquanto favor, doação, constrangimento, troca... requer o rompimento do usuário da sua condição de instituído para a condição de sujeito social crítico e consciente. A socialização da informação e a democratização do saber acumulado e produzidos pelos profissionais sobre a condição dos usuários, sobre os recursos que podem utilizar, sobre o movimento das instituições (rotinas; recursos; contradições; correlação de forças...), cumpre papel relevante no sentido de instrumentalizá-los em suas reivindicações e na conformação do lugar dos mesmos para a condição de sujeito social. Uma relação profissional solidária, na qual o conhecimento que é veiculado possa se processar como instrumento de indagação; de análise; de crítica e de ação, pode contribuir para que os usuários possam participar com possibilidades e clareza na decisão de caminhos na defesa de seus direitos.
A Educação e saúde tem sua origem no processo de conformação da Saúde Pública enquanto ramo de atuação. Entretanto, pode representar em importante estratégia do Serviço Social no desenvolvimento da pratica reflexiva junto aos usuários. Trata-se de um recurso por meio do qual o conhecimento científico atinge a vida cotidiana dos usuários, a partir da compreensão sobre suas representações dos condicionantes do processo saúde-doença.
A concepção de Educação em Saúde, segundo Assis (1998), tem sua origem por volta do século XIX, a partir do desenvolvimento de doutrinas higienistas na Europa. Nesse contexto, a saúde é vista com uma questão de bons hábitos, surgindo a necessidade de “educar” a população sobre as doenças e diversas epidemias que as assolavam. A saúde é centralizada no indivíduo, sem levar em consideração as condições de vida e trabalho, assim como todos os outros determinantes sociais.
No Brasil, tal concepção de Educação surge em meados do século XX, buscando combater as epidemias que atrapalhavam a exportação do café. O Estado Brasileiro também identifica nesse momento a saúde como questão de bons hábitos e passa intervir de maneira autoritária embasado no higienismo, acreditando que a solução para todos os problemas de saúde da população, sobretudo as mais pobres, seria através de mudanças comportamentais, em que estas “obedeceriam” as normas de higiene vigentes. Esse período marca a Educação em Saúde como uma forma de controle por parte das classes dominantes e do Estado sobre a população.
Citando Vasconcelos, Assis indica que a possibilidade de rompimento com a perspectiva adaptativa e controladora ocorreu a partir da proximidade dos profissionais de saúde com a experiência da educação popular[2], a qual se coloca enquanto Pedagogia comprometida com a transformação social. O foco dos educadores objetivaria não mais uniformização do comportamento humano, mas a construção de possibilidades de transformação da sociedade com o protagonismo das camadas populares. (ASSIS, 1998:5-6)
A autora destaca dois modelos que fundamentam a Educação em Saúde: o modelo Tradicional, no qual a prática educativa é realizada como forma de transmissão de conhecimentos, informações, normas e regras às camadas populares, sendo a saúde entendida como uma responsabilidade individual, desconectada dos determinantes sociais e históricos; e o modelo Crítico, que vincula o processo saúde/doença aos determinantes sociais, históricos e econômicos, e não aos hábitos e comportamentos individuais.
O modelo crítico enfatiza o questionamento ao modelo biologista, considerando que este acaba por culpabilizar o indivíduo por sua condição. Ressalta ainda a crítica à forma vertical de transferência do conhecimento, indicando que não considera o saber acumulado pela população.
Ainda com base em Assis, identificamos diferentes enfoques na prática de Educação em Saúde, os quais não se excluem mutuamente:
O enfoque preventivo – A prevenção é o melhor caminho. Educação pautada nos fatores de risco; em conteúdos extraídos da clínica e ou/epidemiologia.
O enfoque radical - a estrutura social e as condições de vida são as causas básicas das doenças e a educação em saúde deve criar uma consciência pública.
O enfoque de desenvolvimento pessoal - Utilização de estratégias para aumentar as potencialidades dos indivíduos. Pressupõe-se que a autovalorização propicia o autocuidado, deixando o individuo menos vulnerável às pressões para práticas não-saudáveis.
As práticas educativas norteadas pelo modelo crítico valorizam a abordagem grupal, o saber popular e o diálogo. No entanto, valorizar o coletivo não significa negar as questões individuais. Esta dimensão também é reconhecida e busca potencializar a afirmação do indivíduo como sujeito.
“Para o homem comm, as coisas são e existem em si, principalmente por sua significação prática: satisfação imediata de necessidades da vida cotidiana”. (VASCONCELLOS, 1997:137)
Cabe atentar para a ação comunicativa e valorizá-la. A interação entre os saberes técnico e popular favorece a transmissão das informações e a problematização da realidade e a compreensão sobre o cotidiano dos usuários.
A mesma autora ressalta que a superação da consciência comum se dá a partir da práxis, em sua essência, a qual vai além da prática espontânea cotidiana, possibilitando ascender a um ponto de vista objetivo, científico a respeito da atividade prática do homem. Destaca ainda que, apesar de nutrir-se das aquisições da ciência, o conhecimento do homem comum acaba por realizar uma aquisição fragmentada e acrítica, impossibilitando uma ligação consciente entre consciência e seu objeto.
Concordamos com a autora na sua compreensão de que a prática cotidiana dos usuários não pode ser desconsiderada, mas a partir dela, na interação entre os saberes técnico e popular, deve-se buscar seu desvendamento e interpretação.
Assim, adota-se a concepção de Educação em Saúde que se insere na perspectiva crítica, considerando-se que tal metodologia privilegia a valorização da vivência do usuário enquanto sujeito coletivo e a interação entre os saberes técnico e do paciente, favorecendo a objetivação tanto por parte dos usuários, quanto dos profissionais envolvidos no processo educativo.
Por fim, vale enfatizar que o modelo de Educação em Saúde crítico favorece o desenvolvimento de práticas assistenciais com base no conceito ampliado de saúde configurado no SUS, reorientando a organização dos serviços de saúde para além do tratamento clínico-curativo, e compreendendo a relação profissional comprometida com a justiça social e a cidadania, bem como com a valorização da qualidade de vida e da promoção do homem enquanto bem maior na sociedade.
Considerações finais.
Apesar dos avanços jurídicos normativos referentes a política de saúde, ainda não se verifica mudanças significativas no quadro sanitário capazes de alterar a perversa realidade que envolve as camadas populares. Se, por um lado, tivemos mudanças relevantes, sobretudo com a ampliação da atenção básica e com algum investimento em programas de promoção à saúde, tais como o Programa Saúde da Família e de Agente Comunitário de Saúde, por outro lado os avanços não se articularam com ações de saúde que envolvem a rede de maior complexidade. São comuns no nosso cotidiano de trabalho às solicitações para exames (tomografias, ultra-sonografias, ressonâncias magnéticas...), medicamentos e internações. A população é submetida ao percurso por várias unidades de saúde, manifestando-se de forma subalternizada, contrariando o fundamento principal do SUS que define a saúde como um direito universal e de dever do Estado.
No Serviço do Coração do HGB, observa-se que, vencido o obstáculo de acesso aos serviços de alta complexidade, o usuário se depara com diversas outras distorções no sistema de saúde no que se refere a continuidade de seu tratamento, seja devido a dificuldade de garantir o necessário acompanhamento ambulatorial, ou do direito à assistência farmacêutica; seja devido a ineficácia das demais políticas sociais, no sentido de garantir a correta articulação intersetorial voltada para o atendimento às outras necessidades envolvidas no processo saúde-doença (adaptação ao trabalho, dado as limitações impostas pela cirurgia cardíaca; direito ao transporte gratuito para o tratamento de doenças crônicas; assistência material, sobretudo alimentícia nos casos de usuários sem vínculo previdenciário, não elegível ao BPC e impossibilitado de exercer suas atividades laborativa...).
Considerado um serviço assistencial de alta complexidade, no qual a cirurgia cardíaca tem especial relevância, observa-se que a predominância do modelo clínico subjuga os determinantes sociais na organização dos serviços e na definição das práticas assistenciais, sendo, por vezes, considerados enquanto fator de exclusão do direito ao acesso aos serviços. A valorização da abordagem sobre os determinantes sociais ocorre, não no sentido de oferecimento da assistência em caráter ampliado, mas enquanto fator de exclusão do direito ao acesso aos serviços, justificados pela necessidade de mobilização de leitos, ameaçadas pelos usuários “sem referência familiar” ou pela “não resolutividade” (e, conseqüentemente, “desperdício de gasto público”) quando se referem aos usuários com renda familiar precária ou com rede de apoio familiar restrita, já que determinados procedimentos cirúrgicos definem a prescrição de medicamentos protegidos pela “Lei de patentes” e que, devido o alto custo, não são ofertados pelo Estado.
Tal quadro explicita que a aplicação dos princípios do atual modelo assistencial preconizado no SUS não se restringe a dimensão normativa. A garantia do acesso enquanto direito universal; da equidade; da integralidade enquanto articulação da assistência nos vários níveis (primário, secundário, terciário e quaternário) e na implementação de práticas assistenciais que possam conceber o processo saúde-doença em suas várias determinações; entre outros, vincula-se, sobretudo à dimensão política e simbólica dos atores envolvidos, independentemente do nível assistencial. A superação do modelo assistencial biologicista e excludente requer um enfoque sobre a saúde enquanto um bem público e práticas assistenciais que priorize a promoção da saúde em seu conceito ampliado.
O estabelecimento de espaços para a democratização de informações e de reflexão sobre a realidade social na qual se insere o processo saúde-doença contribui para fortalecer os usuários na busca de seus direitos, e a distinção de suas necessidades e interesses enquanto sujeitos coletivos.
A ampliação do espaço sócio-ocupacional dos assistentes sociais, a partir das mudanças jurídico-normativas configuradas na Constituição de 1988, não corresponde à idéia de que estão postas as condições de efetivação do ideário do projeto ético-político profissional. As contradições no cotidiano de trabalho, sobretudo devido ao privilegiamento das atividades médicas-curativas individuais, subjugam as ações de caráter reflexivas e coletivas.
Sobre esse aspecto, Costa (2006: 341) nos traz importante contribuição, quando nos leva a compreender que o processo de trabalho do assistente social não se desenvolve independentemente das circunstâncias do contexto conjuntural e institucional:
No Serviço do Coração, o Serviço Social visa atuar sobre as demandas sociais para além do seu caráter explícito, estabelecendo espaços de reflexão possíveis de problematizar e interpretar os condicionantes implícitos das mesmas, com base numa perspectiva de totalidade social. A partir das abordagens individuais, nas avaliações pré-operatórias e demandas espontâneas dos usuários, e das abordagens grupais no GRUPISCO – Grupo de Pacientes Internados no Serviço do Coração, busca refletir sobre os diversos aspectos presentes no processo de adoecimento e de hospitalização, favorecendo o potencial de reafirmação da identidade dos usuários enquanto sujeitos coletivos; de transformação individual e coletiva no sentido da promoção da saúde em sua concepção ampliada.
A metodologia de Educação e Saúde adotada é considerada privilegiada na medida em que, considerando-se a valorização da vivência do usuário enquanto sujeito coletivo e a interação entre os saberes técnico e do paciente, permite o desvendamento e interpretação da realidade, tanto pelos usuários quanto pelos diversos segmentos profissionais envolvidos.
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É possível verificar que a educação e saúde foi sendo gestada nos diversos períodos, de maneira geral, atrelada aos interesses econômicos do Estado e da Classe dominante, sendo marcada pelo autoritarismo e pela imposição de medidas e normas à população, no intuito de reproduzir e adequar os comportamentos e hábitos às normas de higiene vigentes. A saúde era centralizada no indivíduo, sendo estes responsáveis pelo seu processo saúde-doença, isentando o Estado e a estrutura econômica excludente de qualquer responsabilidade.
No período mais recente, identificamos o esforço de implantação da concepção de Educação em saúde mais problematizadora, compreendendo o determinantes sociais, relacionados com a estrutura social e não aos hábitos e comportamentos individuais. Valoriza o coletivo, o diálogo, e o trato horizontal entre os saber técnico e o saber popular, visando uma prática reflexiva com o intuito de transformação da realidade.
Acreditamos que tal metodologia pelo GRUPISCO concorre com as estratégias que potencializem a transformação individual e coletiva dos usuários socialmente inseridos no mundo, ampliando sua capacidade de interpretação crítica da realidade social e de responsabilidade e autonomia com o cuidado e proteção com o corpo, bem como com as ações de promoção à saúde, estas intrinsicamente relacionadas à implementação e ampliação dos direitos sociais.
Entretanto, cabe ressaltar a preocupação em adotar o referencial de Educação e Saúde que considere o caráter contraditório presente na realidade social, bem como a limitação da compreensão aparente da mesma no sentido da sua transformação. Outrossim, concebe-se a prática educativa no seu intuito de transformação social, entendendo-se que pensar o cidadão, é pensar no indivíduo com acesso a educação e informação enquanto capital e transformação da realidade e de consolidação da cidadania.
(*) assistente social no Hospital Geral de Bonsucesso e acadêmica de 8O período de Serviço Social da UFRJ
Referências Bibliográficas:
ASSIS, Monica. Educação em saúde e qualidade de via: para além dos
modelos. A busca da comunicação. Série Estudos em Saúde Coletiva. Rio
de Janeiro: UERJ/IMS, no169, 1998.
COSTA, Maria Dalva H. da. “O trabalho nos Serviços de Saúde e a inserção dos(as)
Assistentes Sociais”. In MOTA, Ana Elizabete. Serviço Social e Saúde.
Formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2006, pp. 304-351.
MELO, J.A.C. Educação sanitária: uma visão crítica. São Paulo: Cortez,
Cadernos do Cedes, nº 4, 1987. pp. 28-43.
PINTO, J. B. “Ação educativa através de um método participativo no setor saúde”.
In: Anais do Encontro de Experiências de Educação e Saúde da Região
Nordeste. Brasília: Ministério da Saúde. 1987, pp. 15-19.
STOTZ, Eduardo N. “Enfoque sobre educação e saúde”. In: VALLA, Vicent. V.;
SOTZ, Eduardo N. Participação popular, educação e saúde: teoria e
prática. Rio de Janeiro: Relume Dumará,1993. pp.11-22.
VASCONCELOS, Ana Maria de. “Serviço Social e prática reflexiva”. In: Em Pauta.
Revista da Faculdade de Serviço Social da UERJ. Rio de Janeiro: UERJ.
NO 10, 1997, pp.131-182.
_________________________. “O projeto de profissão e a prática na área da
saúde”. In: PRAXIS. Jornal do CRESS – Conselho Regional de Serviço
Social – 7ª. região. Rio de Janeiro: CRESS. Junho, 2000.
[1] Conforme definição do Ministério da Saúde, são considerados procedimentos hospitalares de Alta Complexidade aqueles que demandam tecnologias mais sofisticadas e profissionais especializados.
[2] Movimento surgido no final da década de 50, a partir do envolvimento de intelectuais católicos com a questão social.