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Tereza Cristina





terça-feira, 24 de junho de 2008

Perfil sócio-nosológico dos usuários do Serviço do Coração do Hospital Geral de Bonsucesso - HGB

Carla Wirz - acadêmica de Serviço Social - 7o. período - UFF
Tereza Cristina Silva - assistente so
cial - CRESS 7a. reg. 11908
Introdução.

O estudo que se apresenta visa caracterizar os aspectos sociais da população usuária do Serviço do Coração do Hospital Geral de Bonsucesso - HGB, a partir do levantamento das fichas sociais utilizadas pelo Serviço Social.

Trata-se de um enfoque amostral de cerca de 10% dos usuários atendidos entre durante o ano de 2007, no qual se pretendeu delinear o perfil sócio-nosológico dos mesmos.

Caracterização geral do HGB.

O HGB é reconhecido como o maior hospital da rede pública do Estado do Rio de Janeiro em volume geral de atendimentos, sendo categorizado como hospital geral com porta hospitalar de emergência.

A unidade é um complexo organizado em seis prédios. Possui cerca de quinhentos leitos e oferece vinte e cinco serviços assistenciais, envolvendo cirurgia de cabeça e pescoço; Oncologia (quimioterapia e radioterapia); atendimento à gestante de alto risco; transplante de rins (hemodiálise); fígado e córnea e cirurgia cardíaca. Atualmente, encontra-se em fase de implantação o Programa de transplante cardíaco.

É diretamente vinculado a CAP 3.1 (Coordenação de área programática), enquanto instância do SUS, onde existe a maior concentração de comunidades carentes e o menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do município do Rio de Janeiro ( Brasil, 2006:5). Entretanto, os usuários procedem de diferentes áreas programáticas (AP’s) do município do Rio de Janeiro, além de vários outros municípios, em particular da Baixada Fluminense.

Encontra-se situado numa área de confluência das principais vias de acesso do município do Rio de Janeiro (Av. Brasil; Linha Vermelha; Linha Amarela e Linha Férrea). Tal proximidade, propicia o acesso da população, resultando no perfil de demandas com características metropolitanas.

Caracterização Geral do Serviço do Coração.
Equipe interprofissional do Serviço do Coração
O Serviço do Coração reúne a Enfermaria de Cardiologia Clínica (18 leitos); a Unidade Cardio-Intensiva (8 leitos) e o Ambulatório de Cardiologia, para atendimento de folow up (acompanhamento pós-cirúrgico por cerca de 06 meses).

Os pacientes são oriundos do Setor de Emergência; do ambulatório - no caso de cirurgias eletivas - e referenciados por outras unidades.

A maioria dos procedimentos são cirúrgicos (Revascularização do Micárdio; Troca Valvar; Angioplastia; Dissecção de Aorta ...). Poucos casos limitam-se ao Tratamento Clínico (medicamentoso) após diagnóstico com base em exames (patológicos; eletrocardiograma; ecocardiograma; ergometria; cateterismo ...). Atualmente encontra-se em fase de implantação o Programa de Transplante Cardíaco, envolvendo mobilização da equipe no sentido de definição de rotinas e protocolos de atendimento.

Assim, a cirurgia cardíaca tem relevância central na organização dos serviços, inclusive no atendimento ambulatorial, repercutindo na proposta de intervenção do Serviço Social.
Caracterização do Serviço Social.

O Serviço Social no Serviço do Coração desenvolve uma ação mais sistematizada a partir de maio de 2006. Antes disso, a chefia do Serviço Social respondia de forma pontual às solicitações de usuários e /ou da equipe de profissionais.

No “Plano de ação do Serviço Social no Serviço do Coração” foi estabelecido como objetivos:
  • “Atuar sobre a expressão das questões sociais dos pacientes do Serviço Social do Coração do HGB, com base na compreensão técnico - cientifica das demandas explicitas e implícitas, de forma a conceber a mutua interação entre a subjetividade e objetividade dos determinantes sociais do processo saúde – doença, favorecendo o resgate da dignidade humana e o sentido de cidadania, a partir do acesso aos direitos sociais.”

O Serviço Social estabelece como rotina no setor as seguintes frentes de atuação:

  • Realização de avaliação pré-operatória, com base no mapa cirúrgico, voltada para a elaboração de perfil social inicial (com registro no prontuário multiprofissional) dos pacientes com indicação de cirurgia cardíaca;
  • Acompanhamento dos pacientes apresentando situações sociais com repercussão no processo de adoecimento e de hospitalização;
  • Participação no protocolo de alta dos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca;
  • Participação no round1 multiprofissional da Unidade Cardio-intensiva;
  • Round da Unidade Cardio-intensiva

  • Coordenação, conjuntamente com o serviço de Psicologia, do “Projeto de Grupo de pacientes pós-alta hospitalar submetidos à cirurgia cardíaca”, com freqüência mensal;
  • Participação nas reuniões multiprofissionais para definição de protocolo do Programa de transplante cardíaco;
  • Realização de grupo de pacientes internados, com frequência semanal, voltado para a reflexão das situações sociais presentes no processo de adoecimento e de hospitalização e para a identificação das situações que demandam acompanhamento pelo Serviço Social;

Primeira reunião do "Grupo de pacientes pós-alta submetidos à cirurgia cardíaca no HGB.

  • Supervisão de estagiários.

Perfil do usuário do Serviço do Coração do HGB.

Caracterização geral dos usuários do serviço do coração (faixa etária e sexo):

De acordo com o percentual levantado, observou-se que a grande maioria de usuários atendidos pelo serviço social no Serviço do coração são de homens com idade entre 41 e 60 anos, estando, portanto, em condições de trabalho ativa.

Considerando-se que a cirurgia cardíaca impõe limitações nas condições laborativas dos usuários, tendo como contra - indicação médica o exercício de atividades que envolvam esforço físico, verifica-se a demanda por assistência material, sobretudo advindas de pacientes sem vínculo previdenciário e por, não serem idosos, não são elegíveis para o Benefício de Prestação Continuada – BPC do INSS.

Observa-se ainda, dada a predominância cultural do papel masculino de provedor do lar, a necessária modificação dos papéis sociais no âmbito familiar.

Situação de saúde (diagnóstico; tipos de procedimentos; acompanhamento ambulatorial; reinternação; controle alimentar; atividades físicas; adesão ao tratamento):

Considerando-se as características da unidade de assistência no nível terciário e quaternário, constatamos que os usuários apresentam um quadro de saúde já afetado, diferentemente do que seria em uma unidade primária.

Assim, os usuários, advindos em sua maioria do Setor de Emergência em primeira internação, já convivem com a cardiopatia e estabelecem, minimamente, mecanismos de controle e de adesão ao tratamento, tais como: controle alimentar e acompanhamento ambulatorial.

Entretanto, o grande número de reinternações pode ser indicativo das dificuldades de várias ordens (sociais, psicológicas, falta de orientação nutricional; falta de esclarecimento sobre administração da medicação...) enfrentadas pelos usuários pós-alta hospitalar, justificando-se a implementação do Projeto “Grupo de pacientes pós-alta hospitalar submetidos à cirurgia cardíaca”, de caráter multiprofissional, realizado mensalmente.

Situação econômica:
Nota-se que a maioria dos usuários (58%) contam com renda familiar precária, situada entre um e três salários mínimos, a qual, em boa parte, é comprometida com o custo dos medicamentos, constituindo-se na principal demanda ao Serviço Social.

Apesar dos avanços jurídicos da Política de Saúde, a assistência farmacêutica ainda representa uma dívida dos governantes nas várias esferas de poder, comprometendo o princípio de atenção integral à saúde.

Situação trabalhista / previdenciária:

Observamos que a maioria das atividades profissionais envolvem esforço físico, o que acarretará em dificuldades possíveis dos usuários pós-alta hospitalar, exigindo capacitação para o desenvolvimentos de outras habilidades, bem como a modificação dos papéis sociais no âmbito familiar, visto as limitações impostas pela cirurgia cardíaca e a falta de vínculo previdenciário.

Procedência do usuário:

Constata-se que os usuários procedem de diferentes municípios Baixada Fluminense. Tal fato é representativo para a atuação do Serviço Social, a medida em que requer o conhecimento das especificidades das Política Setoriais no âmbito local, sobretudo da Política de Saúde e de Assistência Social.

Situação familiar:

A análise referente a situação familiar remete-nos a relevância da abordagem sobre tal aspecto na atuação do Serviço Social, a medida em que observamos a predominância do papel de provedor do usuário na família, envolvendo a necessária consideração sobre os aspectos subjetivos e culturais na assistência desenvolvida.

Por outro lado, a ausência de pacientes sem vínculo familiar, diferentemente do que é publicizado pelo Serviço Social em outras unidades de saúde de assistência de menor complexidade, coloca-se enquanto indagação sobre um possível “filtro social” para o acesso a assistência de maior complexidade. O relato de outras experiências do Serviço Social em unidade hospitalar, indicando demandas explícitas tais como: abandono do idoso; população de rua; paciente sem identificação... não se constitui enquanto situações colocadas ao Serviço Social do HGB. A pouca visibilidade da questão social impõe diferentes desafios ao assistente social neste setor; seja na conquista do seu espaço sócio-ocupacional; seja na correta interpretação da expressão da questão social.

Aspectos culturais:

Verifica-se uma baixa escolaridade da maioria dos usuários, indicando a importância da ação educativa em saúde, em particular as referentes à prevenção sobre os fatores de risco das cardiopatias.

A abordagem sobre a religião na ficha social tem o intuito de perceber a subjetividade do usuário, considerando-se o caráter simbólico da fé enquanto importante componente no processo de adoecimento e terapêutico. Observa-se, assim, que a grande maioria dos usuários são adeptos de alguma religião.

Considerações finais.

O Serviço Social no HGB enfrenta, em seu cotidiano, a contradição fundamental de, por um lado, atender uma demanda cada vez maior e mais agravada e, por outro, operacionalizar uma Política de saúde, na prática, excludente.

Podemos observar que quanto maior o nível de complexidade da assistência à saúde, maior a dificuldade de acesso à mesma. Enquanto que a assistência primária é efetivada através de práticas simples e que necessitam menor investimento tecnológico e de capital, a assistência de maior complexidade exige um investimento maior, quase sempre ofertado pela iniciativa privada.

Em tempo de “Estado Mínimo”, o Estado acaba reduzindo seus investimentos no nível básico de assistência, deixando para a saúde privada esta fatia de lucro.

No Serviço do Coração, apesar dos esforços no sentido de problematizar as contradições do âmbito institucional, percebe-se um sentimento de impotência diante dos entraves impostos aos usuários para acesso aos serviços, bem como da ausência de políticas públicas eficazes voltadas para a garantia de continuidade do tratamento (assistência farmacêutica, assistência social, assistência previdenciária...), visto às limitações laborativas impostas pela cirurgia cardíaca.

Apesar de ultrapassar algumas das barreiras para o acesso aos serviços de saúde, o usuário continua enfrentando dificuldades em seu percurso, dentro ou fora da instituição, no sentido da garantia de seus direitos sociais. Outrossim, a ausência de oferta de serviços de alta complexidade nos municípios, resultando na confluência para o HGB, agrava tal quadro.

1 Reunião multiprofissional para discussão dos casos clínicos e definição conjunta de conduta.

Assistente social Tereza Cristina e acadêmica Carla Wirz

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