Em homenagem ao "Mês nacional da consciência negra", republico o artigo que resgata a história desse herói negro nacional, Oswaldo Orlando, ou "Oswaldão", destacado líder da Guerrilha do Araguaia, organizada na década de 70. Poucos conhecem por motivos óbvios: a história não consta na literatura didática dos currículos escolares e acadêmicos e é muito pouco retratada pela imprensa. Entretanto, trata-se de um movimento heróico que envolveu jovens; estudantes e trabalhadores que lutavam pela liberdade no País, embrenhando-se entre os camponeses vítimas da ação criminosa dos grilheiros do Pará.
Gente é pra brilhar! E Oswaldão brilhou em seu papel de combatente comunista na luta pela liberdade e pela igualdade social.
Viva Oswaldão! Viva os heróis da Guerrilha do Araguaia!
11 de abril: 39 anos do início da Guerrilha do Araguaia
Em meados dos anos de 1960 os primeiros
militantes do PCdoB – Partido Comunista do Brasil começaram a ser
deslocados para a região sul do Pará, conhecida popularmente como “Bico
do Papagaio”. Dezenas de militantes revolucionários oriundos de diversas
regiões do país combateram nas selvas do sul do Pará, uniram-se aos
camponeses e à população da região e deram início a luta armada
revolucionária fazendo retumbar em todo o país e no exterior a
deflagração da luta armada em 11 de abril de 1972.
“Durante
mais de dois anos travou-se renhida luta. O exército realizou três
grandes e aparatosas campanhas, em conjunto com a Aeronáutica, a Marinha
e a Polícia Militar, contando com armamentos modernos e vastos recursos
materiais. Na primeira – em abril/junho de 1972 – pôs em ação 5 mil
homens; na segunda – em setembro/novembro de 1972 – empregou 15 mil
homens; na terceira, de outubro de 1973 a maio de 1974, mobilizou de 5 a
6 mil soldados” [do documento Gloriosa jornada de luta, 1976].
Quase
todos os guerrilheiros do Araguaia tombaram em combate. Entre eles,
elevava-se, não somente pelos seus quase dois metros de altura, mas
pelas suas qualidades de combatente, sua firmeza de comunista e sua
indestrutível ligação com as massas camponesas e ribeirinhas, o
comandante do destacamento B, Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão.
Osvaldo
Orlando da Costa, filho de José Orlando da Costa e Rita Orlando dos
Santos, nasceu em 27 de abril de 1938, em Passa Quatro, Minas Gerais.
Entre 1952
e 1954 morou em São Paulo, onde fez o Curso Industrial Básico de
Cerâmica, o que lhe assegurou a condição de artífice em cerâmica.
Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde diplomou-se em técnico de
construção de máquinas e motores pela Escola Técnica Federal no ano de
1958. Nesse período, participou ativamente das lutas estudantis.
Osvaldo
Orlando, do alto de seus 1,98 metros de altura, pesando cem quilos e com
seus sapatos número 48 fazia parte da equipe de boxe do Botafogo, e foi
campeão competindo pelo time.
Também tornou-se oficial da reserva do exército brasileiro, após servir no CPOR/RJ.
Ingressou no Partido Comunista do Brasil – PCdoB.
Em Praga, Checoslováquia, formou-se em engenharia de minas.
Osvaldão
foi um dos primeiros militantes do PCdoB a chegar à região do Araguaia,
por volta dos anos de 1966-67 e tinha a tarefa de criar condições para a
chegada de novos militantes e mapear a área. Embrenhou-se nas matas e
percorreu os rios se apresentando como garimpeiro e mariscador.
Tornou-se rapidamente conhecido e amigo dos camponeses, participou de
caçadas e pescarias, trabalhou na roça, tornou-se grande conhecedor das
matas. Em 1969, passou a viver na margem do rio Gameleira.
Foi
comandante do destacamento B e dirigiu vários combates. Foi, ao lado de
Dina (Dinalva Conceição Oliveira), o mais conhecido e respeitado
guerrilheiro entre a população do Araguaia. Ele fazia parte do
contingente guerrilheiro que rompeu exitosamente o cerco militar quando
atacado por um grande número de tropas do exército em 25 de dezembro de
1973.
Segundo
depoimentos de moradores da região, ele foi morto em abril de 1974,
perto da localidade de São Domingos, próximo à Semana Santa. Foi ferido
com um tiro de espingarda 22 na barriga disparado por Piauí, um bate-pau
que fez isto por dinheiro. Em seguida foi fuzilado pelos militares. Seu
corpo foi dependurado por cordas em um helicóptero que o levou de
Saranzal, local onde foi morto, até o acampamento militar de Bacaba e de
lá para Xambioá. Quando seu corpo foi içado pelo helicóptero, caiu e
quebrou o pé esquerdo. Posteriormente sua cabeça foi decepada e exposta
em público. Na base militar de Xambioá, seu cadáver foi mutilado por
chutes, pedradas e pauladas dadas pelos militares e, finalmente,
queimado e jogado no buraco, também chamado de “Vietnam” – vala situada
ao final da pista de aterrizagem da Base Militar de Xambioá onde eram
jogados os mortos e os moribundos. Com o término das operações militares
nesta área, foi feita uma grande terraplanagem, que descaracterizou o
local.
Os
depoimentos colhidos pelos familiares nas diversas vezes que estiveram
na região e as informações de jornais são coincidentes e se
complementam.
O Relatório do Ministério do Exército diz que “foi morto em 7/fev/74″. [Dossiê dos mortos e desaparecidos políticos a partir de 1964, Companhia Editora de Pernambuco, 1995]
Em seu artigo O pugilista vermelho, Rui Moura narra duas das histórias que imortalizaram o guerrilheiro Osvaldão na memória da população do Araguaia:
“Um
grileiro foi ameaçar tirar a terra de Osvaldão e acordou, na sua casa,
com o cano de um 38 cutucando seu rosto e a ordem, dada por ‘um negrão
de quase dois metros de altura e com dois braços que pareciam duas
pernas’, segundo descrição dos que o conheceram:
— Em
vez de você ficar com minha terra, você dá a sua a uma família muito
necessitada. A família já está aí, esperando. Vou lhe levar até a
rodoviária e você não aparece mais aqui, senão morre. E se achar ruim
morre agora que fica mais fácil…
O
grileiro saiu com a surpresa de encontrar os novos proprietários e mais
de 30 pessoas das redondezas que aplaudiam a atitude de seu Osvaldão,
homem justo.”
E outra:
“Estando
de passagem em casa de uma família camponesa, encontrou a mulher
desesperada porque não tinha dinheiro para comprar comida para seus
filhos. Era uma casa pobre. Não tinham nada. Osvaldo perguntou-lhe se
queria vender o cachorro. A mulher, sem outra alternativa, disse que
sim. Tanto ela como Osvaldo sabiam o que significava a perda do cão:
mais fome, pois na região, sem cachorro e arma é difícil conseguir caça.
Osvaldão pagou-lhe o preço do cão e, a seguir, disse-lhe: guarde-o para
mim que eu não poderei levá-lo para casa agora.”
Rio AraguaiaComposição de Cadinho Faria e Toninho Camargos
Brotará o teu sorriso
Teu olhar futuro
Teu amor sincero
Essa terra que te guarda
Conservou teu sangue
Levantou teu nome
Nunca há de te esquecer
Ficará tua certeza
Teu caminho oculto
Tua fantasia
Esse sonho vai ligeiro
Rio de águas turvas
Livre pelo tempo
Até o mar se enfurecer
E esse dia, quando o dia?
Eu não vejo a hora de
Gritar a festa
E essa festa
Vai acontecer
O teu sonho, lindo sonho
Veja, ainda é hora de
Levar à frente
E pela frente
Muito que aprender
No Araguaia passa um rio
Rio onde plantaste tua liberdade
Camponês, homem da terra
Vingará teu sangue
Sonhará contigo
Nunca há de te esquecer
retirado da edição 76 do Jornal A Nova Democracia (www.anovademocracia.com.br)
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